sábado, 15 de outubro de 2005

O Super-Homem morreu...

Pelo antes combinado, o previsto era para que eu publicasse ontem, como venho fazendo toda sexta com um novo capítulo das Novas Cartas Chilenas... Entretanto, pela absoluta impossibilidade de tempo de ontem e diante da total falta de atenção de meus blogueiros de plantão quanto à minha novela virtual, resolvi cancelar as Novas Cartas mais uma vez, por total insucesso, e decidi republicar um texto que fiz no ano passado quando da morte de um grande ídolo da infância, Cristopher Reeve, que imortalizou o Super-Homem e que morreu no dia 10 de outubro do ano passado...

Super-Homem Morreu...

Era março de 1984 e eu dava os meus primeiros passos - pela segunda vez - em uma nova escola em busca de novas interações sociais: "Tu viste o filme de ontem?", "Vocês viram o Super-homem?" "Viram aquela cena em que ele gira o mundo ao contrário?"... Desta vez o assunto era muito melhor que o da semana anterior onde prevaleciam apenas "qual o teu nome?" e "qual o teu signo?" - agora os primeiros contatos com um super-herói cinematográfico, ainda que pela televisão, eram mais do que suficientes para o meu definitivo entranhamento social no novo colégio no novo bairro para onde então acabara de mudar-me, tantos eram os detalhes a compartilhar com meus novos amiguinhos...

Mais ou menos um ano depois foi a vez da continuação passar na TV e mais uma vez o assunto não iria faltar, novamente numa nova escola (agora a definitiva, até o fim do 2º grau): os duelos no ar com os três vilões de Krypton, os efeitos especiais... "E o Super-homem se casou?" É, parecia que sim, só que, no final, parece que se separou e que salvou o mundo mais uma vez...

Super-Homem, o mais completo dos super-heróis, criado em 1938 por Jerry Siggel e Joe Shuster - à época dois jovens estudantes e que terminaram seus dias em velhices pobres e sem reconhecimento -, naqueles idos dos anos 80, já passara por duas felizes adaptações para o Cinema (uma em 78, outra em 80), ambas com exorbitantes êxitos de bilheteria, mas nada disso era de meu conhecimento: o que importava mesmo era que a Globo pela primeira vez - e em sua então única sessão de inéditos, Supercine - exibia cada uma das fantásticas aventuras daquele personagem maravilhoso...

Tampouco importava se Marlon Brando - "quem era Marlon Brando?" - ganhara mais de três milhões de dólares por apenas alguns minutos de participação no primeiro longa ou se, nos créditos iniciais, o nome de Gene Hackman surgia primeiro que o de Christopher Reeve - e quem era Christopher Reeve afinal, já que, estreando com 24 anos com aquele filme, nem mesmo os nossos pais o conheciam?...

Ele era o Super-Homem, aquele que voava e era indestrutível, que, quando surgia, vinha com uma música maravilhosa para se assobiar... Ele era aquele que veio de Krypton para nos salvar e de Hollywood para nos tirar da mesmice sem fantasia em que vivíamos, órfão de heróis, bem antes do anabolizado e marqueteiro He-Man e seus similares... Ele era o Super-Homem, tanto que, apesar de saber que ele só existia dentro do filme (na época os únicos quadrinhos que eu lia eram os da Disney), se um dia ele viesse nos salvar, na realidade, do jugo de um coronel déspota então Presidente e nos restituir a glória como Gil cantou certa vez, quem apareceria na imaginação de todos seria aquele bonito e carismático ator - que, na verdade, era o Super-Homem...

Aos poucos eu fui crescendo. Vieram os outros dois filmes, Superman III e Superman IV - Em busca da paz, ambos ruins e sem magia; outros heróis também invadiram as telas, incluindo Batman, de 1989, que acabou se tornando o meu favorito porque só a partir de então passei a colecionar esse tipo de gibi. Vieram os novos heróis criados por mim em meus quadrinhos caseiros na passagem da infância para a adolescência. Vieram os primeiros namoros e as primeiras responsabilidades. Vieram também as inúmeras reprises na Globo para o conhecimento das novas gerações e novas atuações de Reeve em vários outros filmes, na busca desenfreada para fugir do seu eterno estigma... Não adiantava, ele era o Super-Homem, apesar de bom ator e versátil também em outros papéis...

Foi então que mataram o Super-Homem: a fim de aumentar as vendas do personagem que andava um pouco esquecido nos quadrinhos, os mercenários desenhistas e redatores da editora DC Comics criaram um vilão meia-boca para destruir o herói numa estória que vendeu milhões - e repetiram a presepada milionária para "ressuscitar" o azulão, "modernizando" assim o herói nas revistinhas... A frustração continuou na TV, onde terminaram de "enterrar" o Super-Homem: um ator medíocre com cara de mexicano vestia o uniforme de maior prestígio dos quadrinhos numa ridícula série televisiva, sem saber que só houve um Homem de Aço, apesar de outros atores terem representado o personagem antes de Reeve...

E, há mais ou menos uma década, o Super-Homem se feriu mortalmente: foi quando Christopher Reeve, adepto do hipismo e de todos os seus acessórios de segurança, e mesmo com os seus eternos poderes sobre-humanos, acidentou-se gravemente praticando o esporte, ficando tetraplégico desde então, numa eterna luta em favor das pesquisas com células-tronco, que, assim como numa estória de ficção, poderia ajudá-lo a movimentar-se novamente - luta essa acompanhada de muita determinação e trabalho, chegando a atuar novamente e mesmo a dirigir, de sua cadeira de rodas, uma refilmagem para a TV do clássico Janela Indiscreta... Tudo isso até sua morte, neste último domingo, de insuficiência cardíaca.

Tom, Kubrick, Sinatra, Nelson, Mastroianni, Brando, Quintana e tantos outros gênios das artes morreram e me deixaram tristes pela sensação de perda de um grande valor artístico, como se parte da Música, do Cinema ou da Literatura morresse também um pouco desde então, tamanha a intimidade e a cumplicidade que pareci desenvolver com eles através de suas obras... Entretanto o contato que aprendi a ter com cada um deles foi a partir de meados da minha adolescência, diferentemente do que aconteceu com o Homem de Aço: apesar de Reeve nunca ter sido um gênio da arte dramatúrgica do Cinema, foi ele o responsável por representar o maior super-herói de todos os tempos, o que acabou marcando minha memória de infância, imprimindo e forjando a eterna imagem do ser perfeito de roupas extravagantes que sempre nos defenderá a todos com seus superpoderes do inarredável caminho da morte, uma vez que sempre me restará a possibilidade de voltar o tempo até alguma cena da minha infância, onde acompanhava com entusiasmo, em frente ao televisor, as aventuras do herói que nunca morre...
 

+ voam pra cá

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