segunda-feira, 27 de março de 2006

Hoje se comemora o Dia Internacional do Teatro e o Dia Nacional do Circo, espécies de "artes irmãs", dada a teatralidade que o circo sempre apresentou, especialmente o gênero mais moderno, representado por montagens como as do Cirque du Soleil. Nunca fui ao teatro como fui ao cinema, mas alguns espetáculos me marcaram de forma especial, como a singela obra-prima Pérola, do recentemente falecido Mauro Rasi e com uma Vera Holtz para lá de inspirada, a boa produção de Édipo Rei, do gênio Sófocles, encenada lá no Sítio do Físico, e o musical Sonho de Catirina, nos seus primórdios, antes de o Fernando Bicudo estragar com suas estereotipações a boa colcha de retalhos da cultura maranhense do Bumba-meu-boi, no Arthur Azevedo, recentemente reinaugurado. Viva o Teatro, arte tão sucateada nos dias atuais, cujos artistas andam sorumbáticos, mambembes como artistas circenses, a perambular pelas ruas em festivais sem brilho à moda de antigos palhaços pobres dos circos sem lona...

E, falando em teatro, há artistas do mal que nunca merecerão nossos aplausos, muito menos nossos votos! Falo de políticos da estirpe suja da senadora Roseana Sarney - vocês sabiam que esta distinta "dama", somente no ano passado (e só se considerando os salários e gratificações que recebe pelo Senado Federal, em particular e em destaque a da convocação especial, que a rábula não abriu mão), recebeu a "baba" de quase R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais), mesmo tendo trabalhado menos de quatro meses?! Pois é, meus queridos blogueiros de plantão: de "licença de saúde", a filha do capiroto bigodudo passou quase o ano inteiro neste Estado em campanha (o que se constituía em crime eleitoral!), desesperada que está ela e toda a sua família mafiosa (que dominava o Estado há mais de 40 anos até o novo governador romper com o grupo) para voltar ao poder... "Artista" de marca maior: dançava boi em promoções compradas com a Vale e com a CAIXA e posava de guerreira sofrida à também comprada revista Veja! Por isso, num dia em que se celebra a interpretação (digna, a nobre arte que vem da Antigüidade grega, e não a bastarda e imunda que ainda se deixa pulular no Poder), e no já quase encerramento do Mês Internacional da Mulher, nada melhor que, na ROTATÓRIA de hoje, publicar matéria recente do Jornal Pequeno (jornal independente local, um dos poucos lutadores árduos contra a imprensa forjada do grupo oligárquico) que tão bem relata esta "atriz do mal"!





UM PALIATIVO PARA ROSEANA SARNEY - Calçar as sandálias da humildade...
Por: Othelino Filho/Othelino Neto


Quando julgávamos já haver assistido aos episódios mais inusitados na vida política do Maranhão, eis que, no Dia Internacional da Mulher, a Sra. Roseana Sarney publica um texto no jornal da família em que conclama as mulheres maranhenses a seguirem o seu modelo, a sua trajetória na vida pública. "Tudo o que eu fiz e conquistei foi em nome do meu povo, da sua crença e das suas necessidades", salienta a senadora. Uma semana antes o seu pai já havia ocupado a tribuna do Senado para reverenciar a si próprio, atribuindo-se a qualidade de "o presidente mais corajoso que o Brasil já conheceu". A julgar pelo rumo dos acontecimentos, não será surpresa se pai e filha acabarem em camisas de força: ele, julgando ser o próprio Napoleão; ela, acreditando ser uma reencarnação de Madre Tereza de Calcutá.

A Sra. Roseana Murad disse com todas as letras que a mulher maranhense deve tê-la como um modelo a ser copiado no dia a dia de suas vidas. Cabotinismo à parte, o que é mesmo que a parlamentar oferece que possa servir de exemplo? O pólo de confecções de Rosário, onde centenas de pobres mulheres e suas famílias passam privações por conta de dívidas deixadas por Jorginho - o sócio/marido - e seu amigo chinês? As pessoas enganadas com o projeto Salangô, onde alguns milhões de reais do contribuinte foram irrigados para os bolsos de amigos do grupo? Centenas de funcionárias do Banco do Estado do Maranhão, demitidas para que se processasse a nebulosa venda do BEM ao Bradesco? As quebradeiras de coco, esposas ou mães de lavradores que foram obrigados a abandonar as famílias e se sujeitar a trabalho escravo em outros estados, uma vez que, como governadora, ela acabou com o nosso sistema de agricultura? E o que dizer das milhares de jovens maranhenses que, em mais de 150 municípios, não tinham acesso ao ensino médio por falta de escolas que Roseana achava uma extravagância construir? E preferiu jogar na lata do lixo 100 milhões de reais dos parcos recursos públicos apenas para agradar, "ficar na boa", com a cúpula da Fundação Roberto Marinho, a mesma organização a que pertence a poderosa Rede Globo?

A herdeira da "Capitania Hereditária", bem ao seu estilo arrogante e prepotente, vem apresentar-se como um modelo para as representantes do sexo feminino. Deixemos de lado os seus quase oito anos de governo desastroso para todos; menos para o seu clã, é óbvio. E como senadora? O que está fazendo do mandato que recebeu, senão passear de um lado para o outro à custa do erário? Qual o projeto, que tipo de intervenção, mesmo agora quando se diz aliada de Lula, tem feito em benefício especialmente das maranhenses e das brasileiras, historicamente discriminadas? Por que a senadora só ocupa a tribuna - e muito raramente - para ler discursos escritos pelos outros?

Se tivesse sido contemplada com alguma lucidez, a sucessora do oligarca-mor se teria poupado de situação tão ridícula. É evidente que seria uma blasfêmia evocarmos figuras consagradas como divindades supremas no plano religioso para fazer comparações despropositadas. Dispomo-nos a realçar algumas pessoas especiais e realmente exemplares, por suas vidas e obras que dignificam a espécie humana. Ainda assim haveremos de cometer injustiças por omissão involuntária. Porém, o dever de consciência nos impõe fazê-lo em nome do respeito à verdade e à luz do mínimo de senso crítico. De pronto nos vem à mente a figura de Joana d' Arc, a aldeã-soldado que, sentindo-se incumbida de cumprir uma missão transcendental, por amor e dedicação à pátria, lutou pela soberania francesa na guerra dos cem anos contra a Inglaterra (século XV), conquistando memoráveis vitórias. Famosa por suas atitudes heróicas, a Virgem de Orléans, depois de presa, foi covardemente condenada à fogueira por heresia e supliciada em 1431.

Modelar, também, é Lucrécia Mott, na sua jornada cívica por igualdade de direitos para mulheres e negros nos Estados Unidos (1840). Outros modelos inquestionáveis são as 130 tecelãs de uma fábrica de tecidos de Nova Iorque (EUA), as precursoras das lutas pela valorização do trabalho feminino. Cruelmente exploradas, elas organizaram um movimento grevista e ocuparam a empresa reivindicando tratamento justo e condições decentes para exercer as suas atividades. A manifestação foi reprimida com requintes de pura barbárie, com as trabalhadoras sendo trancadas dentro da fábrica que foi criminosamente incendiada. Cerca de 130 operárias morreram carbonizadas, no dia oito de março de 1857, data que a ONU, somente em 1975, viria a oficializar como "O Dia Internacional da Mulher". Modelo é a irmã Dulce, da Bahia, que se dedicou integralmente à causa dos pobres e miseráveis. Modelo é a madre Flávia, de Codó, que fez da vida uma doação permanente aos desamparados, aos excluídos do Maranhão, do Nordeste, da Amazônia, entre eles os índios. Modelo é a irmã Doroty, hediondamente assassinada por defender humildes trabalhadores do campo, vítimas de jagunços contratados e pagos por latifundiários e grileiros facínoras.

Modelo é a médica Maria Aragão que enfrentou com altivez a ditadura militar e, mesmo violentada com prisões arbitrárias e torturas abomináveis, não arredou um milímetro das suas convicções ideológicas em defesa de sociedades democráticas, igualitárias, fraternas e justas. Modelo é a médica Zilda Arns, por uma existência plena entregue à tarefa de combater todas as formas de agressões, sobretudo contra crianças, adolescentes e jovens e exigir respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana.

(...)

Pedimos desculpas por omissões provavelmente tão graves. É que estas são apenas algumas das mulheres que logo chegaram à nossa memória por suas vivências exuberantes em sensibilidade, em amor ao próximo, seguindo com otimismo, fé e esperança a palavra, os ensinamentos e a verdade cristã. (...) Existem tantas outras mulheres que são testemunhos vivos de bravura, de grandeza no cotidiano de suas existências. Anônimas ou não, servem de exemplo porque vão à luta para cuidar dos filhos, da família, do lar. Não dispõem das mordomias de um Senado Federal, não podem contar com passagens aéreas pagas pelo contribuinte para cruzar os céus do Brasil e do mundo em intermináveis viagens turísticas. Não podem se dar ao luxo de tirar licença para tratamento de saúde e sair brincando bumba-boi por este Maranhão afora. Estas mulheres, sim, são verdadeiras guerreiras! Alguém precisa dizer urgentemente à senadora que lhe é permitido escolher à vontade um modelo bem melhor a ser adotado, o oposto daquele que é refletido quando ela se mira no espelho. Seria um paliativo para Roseana: basta que a princesa calce as sandálias da humildade...



(Jornal Pequeno, março de 2006)
 

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