quinta-feira, 3 de agosto de 2006

E os Morcegos ainda não se foram por completo...


A Última Homenagem


Eu poderia começar mais este "'post' de despedida" falando dos 80 anos de um dos meus cantores favoritos, Tony Bennet, que ontem fez mais um aniversário de um talento inigualável (tanto que o próprio Sinatra chegou a considerá-lo o melhor), em canções imortalizadas como I left my heart in San Francisco, The boulevard of broken dreams ou Just in time... Ou ainda falar sobre um dos melhores times do mundo na atualidade, o São Paulo F. C., com Rogério Ceni e cia. que, além de terem arrasado no jogo de ontem com um ótimo futebol que lembra o do Bi de Telê, bem que mereceriam ser a base de uma Seleção Brasileira, como se dava nos velhos tempos, ao invés de perderem tempo com "estrelas" longínquas... Mas o homenageado de hoje é um poeta cujo centenário aconteceu recentemente: Mário Quintana... Para Glória, que ama a Literatura, namora as palavras e canta belamente as palavras...



Dizer que o gaúcho Mario Quintana foi "o poeta das coisas simples" sempre me pareceu assaz "simplificado", e um poeta não se simplifica, desvenda-se... Como se, em sua casa, do alto de sua "Rua dos Cataventos" (donde podia avistar com facilidade o resto do mundo), fosse apenas um velho poetinha, a observar a morosidade da vida... Entretanto sua grandiosidade reside justamente nisso, no seu ver a vida - afinal, a poesia é ser maior, abstrato e incompleto: completamo-nos nos poemas que dela podemos colher, e Quintana, definitivamente, sempre os colheu de forma magnificamente despreocupada (escrevia porque sentia necessidade, dando de ombros para qualquer crítica, que injustamente o reconheceu de forma um tanto tardia...).

Conheci esse mestre como se conversasse com ele em alguma praça de Porto Alegre (cidade onde faleceu, no dia 5 de maio de 1994, próximo de seus 87 anos), tamanha a intimidade que logo alcancei com a sua obra: lia, por ocasião dos livros para o Vestibular, sua belíssima "Nova Antologia Poética", precisamente no ano de sua morte, eternizando-se em uma influência rejuvenescedora, para sempre...

Decidi, desta vez, falar pouco e deixar que o mestre falasse de si mesmo, em sua perfeitamente simples descrição da vida - faço minhas as suas palavras...


"Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a eternidade.

Nasci do rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a Sir Isaac Newton!

Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que nunca acho que escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! Sou é caladão, instrospectivo. Não sei por que sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?

Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de fármacia durante 5 anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Erico Veríssimo - que bem sabem (ou souberam), o que é a luta amorosa com as palavras..."

(Mario Quintana)
 

+ voam pra cá

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