domingo, 24 de junho de 2007

É São João!


Nasci e me criei em São Luís do Maranhão, assistindo a uma bela e rica cultura advinda de um povo pobre, porém rico em misturas raciais e em tradições folclóricas. E tome quadrilhas, tambores de crioula (recentemente elevada à categoria de patrimônio imaterial nacional), danças portuguesas, do coco, da fita e do Cacuriá, pandeirões, matracas e todo tipo de bumba-meu-boi... Descobri a essência de nossa música num dos melhores discos que já tive o prazer de ouvir: Bandeira de Aço, que reunia a genialidade das composições de Josias Sobrinho e Carlos Cesar Teixeira sobre nossas tradições e lendas, com os arranjos e as interpretações precisas de Papete... Naquele tempo não havia esse 'boom' de arraiais de hoje, de "São João pra inglês ver", de São Luís Patrimônio da Humanidade nem qualquer outro 'merchandising' barato nascido com uma oligarquia imunda que de pão e circo se alimenta há mais de 40 anos (se não dominam atualmente o governo local, nossos "representantes do Senado" são todos da "boiada")!

Há uma lenda, em particular, que basicamente estrutura o folguedo de todos os bois que "bumbam" pelos mais diversos sotaques (ritmos e percussões que conduzem as apresentações de cada grupo): a lenda da Negra Catirina. Nela, uma escrava grávida fica tão desejosa de comer língua de boi assada a ponto de obrigar seu marido, o Pai Francisco, a matar o boi de estimação do Senhor, que, desesperado, recorre à sabedoria mística dos indos e aos poderes dos cazumbás para ter o seu boi ressuscitado, o que, ao final, acontece, com tudo acabando em perdão e festa... Em torno deste mito, e da grana do Estado, inúmeros novos "bois" se formaram, diminuindo um pouco a tradição, passando a pulular por toda parte nos mais diversos arraiais (amplos parques, com bares feitos como barraquinhas de palha, onde são feitas as apresentações que adentram a madrugada), algo bem diferente dos terreiros do interior e dos limites pobres da Cidade...

Ainda há tradição no nosso bumba-meu-boi – e viva o boi de Ribamar, da Maioba e do Maracanã! –, nem tudo está perdido... Resta a torcida para que o nosso boi, nossas tradições e até mesmo nossa bandeira deixem, enfim, de ser símbolo de posse de poderosos Senhores e voltem aos caboclos de fita, aos cazumbás, aos matraqueiros e às índias... Ah, as índias...! E parabéns aos aniversariantes de São João Mirelle Faray e minha tia Magali – ocasião em que eu sempre comia deliciosos manuês e muito mingau de milho quando menino...



Boi da Lua
(Carlos Cesar Teixeira)

Meu São João!
São João, meu São João...

Eu vim pagar a promessa
De trazer esse boizinho
Para alegrar sua festa
Olhos de papel de seda
Com uma estrela na testa
Chora, chora...
Chora Boi da Lua
Vim pedir uma esmola
Pr'aquela boneca de anil

Mamãe, eu vi Boi da Lua
Dançar no planeta do Brasil!
 

+ voam pra cá

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