"As 3 Prateleiras": a parede do meu quarto que mais reúne das minhas coleções...
Certa feita, o genial e multifacetado Nelson Rodrigues disse uma daquelas
suas assertivas que já nasciam eternas: “O adulto não existe; o homem é um
menino perene”. Chego a concordar com ele, por tantas vezes que me perguntei
quando chega a tal “fase adulta”: nas primeiras solidões? Com a primeira
relação sexual? Com a Faculdade? Nas primeiras contas a pagar (juntamente aos
carnês)? Sempre senti a transição toda muito gradual, suave, quase
imperceptível: não me dói o tempo passar; pelo contrário... Mas ainda me
espanta o fato de que tenho 30 anos, à beira de um casamento e de grandes
responsabilidades, tendo vivas em mim todas as reminiscências possíveis e
imagináveis de minha infância e adolescência... Nem mesmo sei como o maracatu
começou, mas sei que vou até o fim!
Creio poder definir-me como um sujeito sério e sereno, tendo sempre me sentido,
de certa forma, “maduro” (como uma amiga gostava de dizer: “Nas mazelas da vida,
sou bastante maduro: vivo caindo!”), desde muito cedo, por volta dos 14 anos, ocasião
quando, além de ter descoberto a Bossa Nova, Tom e Chico em contraste aos hits obrigatórios da idade, viria a
namorar uma moça mais velha e sempre carregando pechas como as de “intelectual”
ou “sisudo”, dado o meu interesse por coisas “centradas”, sempre um pouquinho
mais densas que as generalidades permitidas pela doce adolescência... E digo
tudo isso porque, muito longe de me achar “infantil”, hoje me vejo gostar de
coisas que por toda a vida gostei – e que algumas crianças ainda hoje adoram! E
minha noiva Jandira me acompanha, de certa forma (bem à distância, eu diria,
quanto a este quesito), com pequenas coleções que lhe “arranjei”: algumas miniaturas
(as últimas que lhe ofertei foram da turma do Shreck) e chaveiros, que ela
guarda com carinho...
Por exemplo, adoro Animação, gênero hoje muito longe do que antes se
denominava apenas como “Infantil”, e coleciono coisas... Não muitas, mas de
variados tipos: carros, motocicletas e aeronaves de ferro em miniatura (a maioria
na proporção 1:23 cm), cartões telefônicos, revistas em Quadrinhos e bonecos e
miniaturas de meus personagens favoritos do Cinema e dos Quadrinhos. Mas também
coleciono “coisas de gente grande”, como livros, CDs e DVDs, revistas Playboy (mais de 80 exemplares, com as
temporadas completas de 98 e 99 inclusas), fotografias virtuais... Como um
menino que reunia as figurinhas do escrete canarinho de 70 em décadas passadas,
eu já me vi mesmo comprando figurinhas para um álbum “adulto”, o “Grandes Marcas”,
da Editora Três, no início deste mês – o tema: clássicos anúncios da
Coca-Cola... Figurinha é coisa de criança? E desenho animado ou Quadrinhos? E Playboy – coisa de adolescente? Curiosamente,
eu lembro que a primeira que descobri e “tateei” foi por volta dos meus tenros
8 anos de idade...
Decerto que devem existir inúmeros estudos a respeito do perfil de alguém
“colecionador”, buscando interpretar esses incompreendidos com suas “coisas
acumuladas”, mas hoje, do alto de meus humildes colecionismos, percebo duas
coisas curiosas: aos 14 anos, eu não colecionava nada – o que não me rotularia
hoje, por consequência, como um “adulto frustrado”; e, mesmo hoje, ocasião em
que “compro coisas”, ainda posso dizer que estou bem distante do que se possa
chamar de um legítimo “colecionador”, a não ser pelo fato de reunir itens
bacanas de que gosto e de “jogar dinheiro fora” para comprá-las (“E quanto foi
este boneco?” “É uma action figure cheia
de pontos de articulação... R$ 65,00” “O Quê?!”). E isso eu descobri depois de
conhecer gente da mais alta estirpe: como uma trupe de alienígenas escondidos
na Terra de algum filme de ficção científica, muitos desses colecionadores já
estão entre nós – e com capacidades muito além de nossa vã compreensão...
Cito um exemplo bem ilustrativo, digno de uma clássica história em
quadrinhos: numa recente pós-graduação que cursei numa faculdade local,
reencontrei uma antiga colega, Valéria, que então estudava com seu esposo
Maurício, sujeito muito simpático que conheci e com o qual passei a conviver
uma semana por mês e em alguns encontros fortuitos por São Luís... Eis que Marv Miller (“identidade secreta”
virtual de Marco Aurélio, um “pacato funcionário” do Fórum local que conheci
por intermédio de outra amiga) surge no mundo virtual e cria uma Comunidade no Orkut chamada “Toca dos Quadrinhos”, a
fim de arregimentar aficionados e simpatizantes do universo pop dos desenhos e das revistinhas de
ontem e de hoje – e onde se cruzariam estes “universos paralelos”?
Para a minha grande surpresa, na tal comunidade eu descubro Ship, cuja coleção invejável de mais de
500 bonecos articulados estava ligada a um perfil com uma foto que me pareceu
peculiar... Era o Maurício: o maior colecionador de miniaturas action figures deste Estado! O mesmo
cara da Pós que, algum tempo depois, confessou-me ter mantido esta
peculiaridade incrível, por muito tempo, em segredo – tal qual um bom herói das
HQs...
Lá se ia minha ilusão de que eu possuía uma “coleção de bonecos”: Sr.
Incrível (brinde do McDonald’s),
Batman e Robin (Série DC Superheroes),
Super-Homem (com a cara do Brandon Routh, de Superman, O Retorno), Darth Vader (Star Wars), He-Man (da série clássica, da Estrela), Lion (dos Thundercats clássicos, da extinta Grasslitte) e Wolverine (com a cara do
ator Hugh Jackman, do filme X-Men),
dentre outros (num total de 30 bonecos), simplesmente arrefeceram quando
visualizaram uma das primeiras fotos do Flogão
(espécie de ‘site’ de fotos pessoais) do Maurício – este, sim, um colecionador
inveterado!
E o tal do Marv, digo, Marco
Aurélio, não ficava atrás quando o assunto eram Quadrinhos: inúmeras obras
raras e até de nacionalidades distantes dos grandes eixos pop DC/Marvel, editoras norte-americanas famosas das quais eu mais
tinha revistas, faziam, por sua vez, sombra às minhas parcas revistinhas (pouco
mais de 200 da “coleção” antiga, compradas na infância, e cerca de 100 das
“encadernações especiais” da fase pós-adolescência) compradas na banca mais
próxima de minha casa...
Ciente, então, de minha “insignificância” como colecionador, eis que
descubro a adorável figura de D. Maria Lílian: comentando sobre alguns títulos
em voz alta, como que puxando assunto, nas Lojas Americanas (meu terceiro “santuário”,
logo depois de uma livraria e de uma banca) de um shopping local, aquela senhora inteligente de 55 anos (ela mesma
fez questão de revelar a idade, dentre outras coisas maravilhosas como
deliciosos exemplos de vida...) acabou por tornar-se uma agradável companhia
nas quase duas horas de bate-papo – e sobre quem, finalmente, “ganhei” em
comparação numérica: no caixa, comprando 6 filmes de uma vez, aquela figura
ímpar brincava: “Rápido, moça, passe logo pra cá estes DVDs, que eu tenho que ganhar dos 85 títulos que esse rapaz
tem!”...
E nem só de coisas genéricas vive o mundo da coleção: duas semanas atrás
fui apresentado ao chefe de Jandira, o Sr. Monteiro, o glorioso “colecionador
dos filmes vencedores do Oscar”! “Mas o senhor tem TODOS os ‘oscarizados’, de
todos os tempos?” “Estou quase lá, rapaz...” “E as animações vencedoras? Ou os Oscars de filmes estrangeiros?” “Humm...
Não havia pensado nisso...”! Sem esquecer os mais de 200 títulos (que ele não
aluga – compra!) desta “série oscarizada” inusitada, S. Monteiro ainda reúne
peças raras, como antigos bonecos de ferro de guerreiros medievais e soldados
da Segunda Guerra, por exemplo... Nem preciso dizer que meus hoje parcos 88
títulos em DVD (entre boxes e edições
especiais originais, afora algumas gravações e outros títulos em VHS) ficaram acanhados tão logo souberam
de S. Monteiro...
É com encantamento que percebo este “multiverso” até há pouco
desconhecido para mim, a não ser por um ou outro amigo mais viciado de longas
datas (como Dennis, que desde a oitava série compra gibis e sabe tudo dos
super-heróis ianques) e fico contente em ver que tais “manias infantis” vão,
aos poucos, contagiando mais e mais pessoas que não têm vergonha de “guardar
trecos” com ou sem valor – e de dizer isso em alto e bom som! E o mais
engraçado é que, mesmo “perdendo feio” para estas feras, acabei por perceber
que saí ganhando: adulto ou menino, dei agora para colecionar amigos com
histórias incríveis...
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