segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Quando uma HQ fala com pinceladas

de Literatura...

A linguagem dos Quadrinhos, cada dia mais reconhecida como arte independente, precisa ser respeitada como tal: linguagens gráfica e literária normalmente indissociáveis (pode haver uma História em quadrinhos sem diálogos, por exemplo). Em outras palavras, cada arte com sua libguagem: não dá para comparar uma HQ, por mais rica, com uma obra de Literatura! Mas alguns trabalhos, seja por sua inovação visual, seja pela riqueza social de seus textos, muitas vezes aproximam-se a trabalhos literários, como os de Dostoiévski, Victor Hugo ou de Machado de Assis, ou deslumbra em termos de artes plásticas, como o realismo fotográfico de pintores como Richard Whitney. Assim, hoje merecem destaque duas obras-primas precursoras que adquiri recentemente em minha humilde coleção quadrinística...



Will Eisner dispensa apresentações, mesmo para os não iniciados em Quadrinhos: sinônimo de qualidade e inovação (seu nome é título de prêmio nos EUA), Eisner trouxe ao mundo, em 1978, esta genialidade com aspectos cinematográficos (sua famosa definição de "Arte Sequencial"), por muitos considerada a primeira 'graphic novel' ("romance gráfico", termo já usado na década de 1960, mas só popularizado com a arte de Eisner), Um Contrato com Deus, onde 4 contos independentes (de longe o mais forte e poeticamente rico é o que abre a obra, homônimo do título do livro - com preço um pouco acima da média, R$41,00, sem nenhum extra...) narram as venturas e desventuras de gentes mesquinhas, pobres, patéticas ou perdidas, homens e mulheres comuns, trabalhadores, oportunistas e donas de casa da classe baixa judia de Nova Iorque, morando em cortiços (reais ou imaginários) e sonhando com uma vida melhor... Temas adultos como dor/esprança, pedofilia, adultério e inicação sexual são permeados à sempre em movimento arte do imortal Eisner, tal como se estivéssemos vendo um amargo filme em preto e branco da década de 50, inesquecível...

Já a explosão de cores de um universo, digamos, mais comercial (Eisner também foi inovador neste mundo, tendo criado a lenda igualmente inovadora Spirit, na década de 40) e mais recente (1999/2002), também marca outra obra genialmente extraordinária em criação: numa visão ainda mais cinematográfica, especialmente destacada pela arte de "pintura em realismo fotográfico" (a técnica deste artista consiste em fotografar modelos em trajes de super-heróis e em poses de ação, pintando posteriormente esta ação, acompanhando o original fotográfico como modelo) por cima de um moderno visual "retrô", fruto da paixão do artista Alex Ross pelos visuais antigos de clássicos personagens, como Batman, Super-Homem, Mulher-Maravilha e Lanterna Verde: Os Maiores Super-Heróis do Mundo (Panini, R$ 100,00) vale cada centavo da luxuosa versão encadernada com estórias independentes dos principais personagens da DC Comics, em criativas e realistas estórias, trazendo os super-heróis para problemas sociais do mundo atual, como fome mundial e repressão feminina em países do Oriente Médio, desenvolvidas por Paul Dini (da ótima série Batman: Animated Series), tudo narrado em grandes pinturas abertas, tal como num grande "livro infantil" moderno para adultos, cheio de detalhes e traços incríveis que saltam das páginas - sem contar com inúmeros extras para os fãs, como entrevistas com os autores e esboços dos conceitos originais... Imperdível!

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14 comentários:

Moacy Cirne on 25 de janeiro de 2010 às 18:39 disse...

Oi,
meu caro,
uma análise cuidadosa, equilibrada e pertinente (sim, Eisner é um dos gênios do séc. XX) mostra que você entende do assunto. Pelo menos, levando em consideração iclusive outras postagens, assim me parece/u.

Um abraço.

Scorpys on 25 de janeiro de 2010 às 18:55 disse...

Vi A metamorfose,de Kafka em quadrinhos achei muito interessante além de ser uma maneira de chamar a atenção dos adolescentes para a leitura de grandes obras.tenha uma semana deliciosa,
beijussssssssss

Francisco Sobreira on 25 de janeiro de 2010 às 23:09 disse...

Caro Dilberto,
Embora não seja um amante dos quadrinhos, li com atenção o seu texto. E referendado pela opinião do amigo Moacy, que é um "expert", já com vários livros publicados, percebe-se que você entende do que está falando. Um abraço.

Magui on 26 de janeiro de 2010 às 01:27 disse...

Meu marido gostava muito de revestas grandes com desenhos muito lindos.Vendi tudo para colecionadores que ficaram malucos quando viram.

Thiago Leite on 26 de janeiro de 2010 às 12:22 disse...

Há muita coisa de alta qualidade nos quadrinhos, e felizmente as editoras brasileiras descobriram isso.

Ainda vou pegar um Eisner para ler (estava com vontade de comprar Nova York).

E valeu a dica dos super-heróis da DC. Às vezes hesito comprar HQ de super-heróis, mas felizmente tem Dilberto para dar o aval.

Ricardo Campos disse...

Oi Dil,

Tal como o cinema, quadrinhos é uma forma de arte, mas só pode ser elevada há obra prima da arte gráfica nas mãos de grandes do gênero, como Eisner, Frank Miller, Allan Moore e outros. Fico um pouco frustado por não ter acompanhado as grandes obras destes criadores, mas com o seu conhecimento e um pouco do que sei e me informei, me fazem apreciador à distância desta forma de entretenimento com qualidade. Fico triste de saber que "Spirit" foi um fracasso no cinema, adaptado por Frank Miller de forma canhestra. Um filme que pode entrar para o rol dos piores de 2009.

LuRJ on 26 de janeiro de 2010 às 23:03 disse...

Dil,eu nunca achei graça em quadrinhos,talvez pq nunca tenha sido apresentada a nada de valor. Então,fiquei surpresa ao ler seu post e saber que existem obras primas nesse estilo de literatura.E me pareceu que vc entende muito do assunto.Agora vou começar a pesquisar sobre isso e tentar conseguir uma dessas revistas.Me chamou a atenção o "Um Contrato com Deus" pelo tema que aborda. Será que ainda se consegue comprar? Vou pesquisar a respeito.
Bjs

Batom e poesias on 27 de janeiro de 2010 às 00:39 disse...

Embora pouco "enfronhada",(no sentido de conhecedora) do universo da HQ, gosto da forma como escreve a analisa.

Demonstra discernimento e conhecimento.

Aprendo muito e aproveito para mandar um beijo.

Rossana

marceloh on 28 de janeiro de 2010 às 21:28 disse...

O HQ se modernizou ficou mais realista e ganhou muito em recursos graficos...fico meio com o pé atras quanto ao realismo...acaba a fantasia ou instriu?

abs

LuRJ on 29 de janeiro de 2010 às 00:19 disse...

Oi,Dil! Estou com um novo blog.Esse,só de contos e paródias.Comecei há poucos dias. Mas continuo com as Esquinas da Farme. Aparece lá e dá uns pitacos,ok?
Bjsss

Celso Ramos on 29 de janeiro de 2010 às 16:26 disse...

Olá!!!

Hoje não leio quadrinhos, mas o meu gosto pela leitura se deve em muito a eles. Comecei catando revistas antigas em bancas para encontrar os primeiros números de "os novos titãs" e lí "crise nas infinitas terras" O que prevíamos a tempos atrás se concretiza hoje quando o quadrinho também se transforma em Arte!!!!

Ruby on 31 de janeiro de 2010 às 22:28 disse...

Desde muito criança amava as HQ, lia com voracidade. Hoje me limito às tirinha de jornais, internet, é uma arte esplêndida e merece mesmo muito respeito, já conheço as obras de Machado de Assis em quadrinhos. Beijos, querido Dilberto.

quezia disse...

Adoro os Hq's, desde cedo sempre fui muito apaixonada pelo mundo extraordinário e inovador que tais histórias podem proporcionar...Sobre Eisner já li algumas histórias de Spirit...o achei bastante interessante porque ele compôs um personagem diferente, inclusive em seus amores...Mas sou fascinada mesmo pelos personagens da DC comics e Marvel...Meu personagem favorito de todos é o super-homem...leio e assisto tudo o que posso, referente ao meu grande herói...o que mais gosto nos personagens é que apesar de salvarem o mundo, todos eles possuem vulnerabilidades, o que os torna mais próximos à realidade dos meros mortais,rsrsr...Enfim, posso dizer que o mundo de animação é bem divertido, inclusive já pensei em fazer, na minha monografia, alguma coisa com quadrinhos relacionado ao direito, para que este pudesse ser mais acessível para as crianças na escola e também para os demais cidadãos, que vêem neste ramo, apenas uma forma de distanciamento, o que gostaria que fosse revertido...Quem sabe, mantenho esse pensamento. Bjo

Игорь on 8 de fevereiro de 2010 às 12:06 disse...

Eisner ...

Tinha uma pequena raridade aqui em casa , um gibi bem antigo do espirit , em papel jornal .

bem, sumiu por ai .

 

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