sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Carta do meu avô Sebastião
para minha filha Isabela


São Luís, 20 de janeiro de 2012

Cara Isabela,

Quem escreve estas "mal-traçadas" linhas virtuais não é o seu bisavô Sebastião: ele já morreu há mais de 7 anos e, pelo que me lembre, jamais tocou um computador... Sou eu, seu pai, falando dele... Porém, apesar de não acreditar muito em psicografia, sinto que ele, de alguma forma, agora escreve por mim em muitos aspectos, através da minha memória afetiva... E, como acho que cartas de quem amamos são as mais caras, resolvi dar esta a você, de presente, no dia do aniversário dele...

Hoje, seu bisavô completaria 88 anos de idade. E eu, que homenageio tantos nomes desconhecidos e distantes por seus feitos culturais ou ideológicos, venho hoje homenagear este homem comum, com sua histórias de histórias, por meio desta carta a você. Não que eu nunca o tenha homenageado, muito pelo contrário: desde 2004, ano em que faleceu, já lhe rendi inúmeros escritos, entre crônicas e poemas, tanto por ocasião da data do seu nascimento, no dia de São sebastião, como no da sua partida, no dia de outro santo, o Antônio.

Se foi santo o seu bisavô? De alguma forma, sim, com seu ar simpaticamente distante em meio a furacões de problemas, com um pouco de estoicismo e um pouco de displicência, sempre com um sorriso bacana... Mas a santificação veio mesmo no final da vida, com sua martirização devido a uma série de pequenos problemas de saúde, que culminaram na amputação da sua perna direita. Ainda bem que você nunca o viu assim, triste numa cama, esperando a morte chegar em casa ou no hospital... Bem, você nunca o viu de jeito nenhum...

Ele era alegre, generoso e sempre muito simpático com todos. Algumas vezes bem mais alegre e generoso que o normal, com eufóricas brincadeiras e histórias mirabolantes de feitos e bravuras; outras bem menos, taciturno até, recostado nalgum lugar e, discretamente, batucando seus sambinhas nos braços da poltrona - tal era o seu bipolar "problema de nervos"...

Hoje batuco quase sem querer qualquer uma das cançõezinhas de que você já tanto gosta, Filha, ora pelos braços das poltronas, ora nalgum objeto acusticamente interessante, ora no seu próprio corpinho... Noutras vezes fujo simpaticamente dos atrozes problemas ao som de um samba antigo e melodicamente perfeito, dentre os milhares que ele me ensinou a gostar também sem querer, quando eu ouvia, ao seu lado e quase em silêncio, os LPs de Nelson Gonçalves, Ismael Silva, Jamelão, Martinho da Vila e Paulinho da Viola - muitos hoje comigo, mas que você ainda nem teve o prazer de ouvir, porque o Papai ainda não consertou o antigo 3 em 1 do vovô Carlito... Sim, o filho do seu bisavô Sebastião, que traz mais ainda do seu "bisa"...

Sei que ainda se encontram de pé todas as suas 4 "bisas" (parece tradição da família as mulheres enterrarem os maridos e seguirem por mais um bom tempo - mulheres fortes: bom pra você, minha querida); porém, além das questões das distâncias e das saúdes de cada uma delas, o seu bisavô Sebastião foi o que mais deixou herança...

E assim nos levamos, minha doce Isabela, por entre as histórias maravilhosas de momentos nem tão fantásticos assim, mas que trazem consigo histórias de vida, uma cara bonita de amor em família, heranças de pai para filho... Ou, no meu caso, filha: como você se parece tanto comigo (e eu, em várias coisas, com meu pai; e ele, bastante com meu avô), que a essência destas belas estórias siga com você e com os que vierem depois de você - que nos carreguem sempre!

Porque hoje é aniversário do seu bisavô, Filha: palminhas e beijinhos para o "bisa" Sebastião que, onde ele estiver, jamais se esquecerá de nós! Parabéns a ele, que você ainda nem começou a conhecer...
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20 comentários:

Thiago Leite on 21 de janeiro de 2012 às 09:12 disse...

Uma maneira muito boa de preservar a memória da família. Hoje em dia, nos centros urbanos, perdemos muito de nossa memória genealógica, que é ainda tão cultivada em comunidades rurais (onde as pessoas guardam lembranças frescas de várias gerações anteriores às suas). Essa memória é importante para entendermos uma parte de quem somos.

Claudinha ੴ on 21 de janeiro de 2012 às 18:29 disse...

DILeto amigo!
Estou emocionada em ler este post que nem deve ser assim chamado! Primeiro pela beleza que encerra, pelo amor em cada memória entrelaçada às palavras e passada de geração a geração. Passada a Isabela, que por sua vez, aprenderá a transmitir emoções aos seus descendentes! Em segundo lugar, por você de alguma maneira me adicionar à este sentimento. Digo isso, por conta do meu afeto com vovô SôZé, com (bisa)vovó Josina (sua mãe), estes com quem convivi mais e dos quais vivo falando no TP.
Obrigada !
Nós somos o que vivemos, o que transmitimos e construímos e os nossos queridos continuam vivos cada vez que nos lembrarmos deles e que cultuarmos sua memória.
Morre apenas quem não é lembrado!

Beijos!

Claudinha ੴ on 21 de janeiro de 2012 às 18:36 disse...

Ah, sobre a Poderosa (alguns me chamam assim na farmácia, hahahah), sim, você matou a charada. Ela teve uns poucos quadrinhos (que perdi). Achei uns links ó:
Wikipedia

Ísis em outras mídias

Embora tendo surgido inicialmente na TV, Ísis também contracenou com Capitão Marvel nos quadrinhos, e teve seu próprio título pela DC Comics, que durou 8 números. Esta versão da personagem parece ter sido posta fora de existência com a Crise nas Infinitas Terras.
Na série animada da Filmation, Tarzan and the Super 7, Ísis também apareceu como membro da Freedom Force, grupo que continha ainda Merlin, Sinbad, Super Samurai e Hércules.
Recentemente, Ísis apareceu novamente em quadrinhos da DC Comics, e descobriu ser encarnação da esposa de Adão Negro, quando este ainda era um príncipe egípcio.

e aqui: title="Poderosa Isis"

Claudinha ੴ on 21 de janeiro de 2012 às 18:48 disse...

DIL!!! Para mostrar a você, acabei achando aquele link para abaixar da net as revistassss!!! IUPIIII, vou reler minhas aventuras e sonhos! Obrigada!BJ

Chris Ferreira on 21 de janeiro de 2012 às 19:15 disse...

Oi,
eu adoro essas coisas que vc escreve!!!
Acho tão bonito e emocionante! Tem tanto amor nas suas palavras!
Adoro! Também curto muito seus comentários!
Que bom que vc gostou da postagem! Ana Lú está bem parecida comigo mesmo... rs...e eu adoro quando alguém diz isso!
Beijos
Chris
http://inventandocomamamae.blogspot.com/

Jota Effe Esse on 21 de janeiro de 2012 às 19:36 disse...

Com certeza Dilberto, vais gravar em todos os meios eletrônicos e imprimir em papel essa crônica para que Isabela possa degustar quando estiver em condições de fazer. Meu abraço.

Duarte on 21 de janeiro de 2012 às 23:34 disse...

Quanta ternura... Que sensibilidade!!!
Amigo, é a força da mente, sim, ele dirige a tua mão para que plasmes aquilo que sente.
As pessoas assim tornam-se eternas. Tu levas a mesma sensibilidade dentro, é algo que notei ao ler aquilo que escreves, escreves com as alma, algo grande, imenso.
Os feitos dignificam o homem.
Conseguiste emocionar-me.
Sou avô e sei o que se sente.
Parabéns para ambos, por ser assim, tão autênticos.
Um grande abraço, e a minha amizade

adriana on 22 de janeiro de 2012 às 06:01 disse...

Nao sei explicar o quanto me emocionei com este post! Eu tb era muito ligada aos meus avós e acho linda a maneira como vc relata a sua saudade! Isabela ainda vai ter muito a conhecer dos teus avós, tenho certeza! Vc deve ter todo um mundo repleto de histórias bonitas que ficaram de herança para a pequena!
Sinto muito a falta dos meus avós e sou muito grata por eles terem existido na minha vida, o amor deles era incrível, parece que estavam ali somente para encher a vida dos netos de ternura e amor! Um verdadeiro presente de Deus!

Um abração

layla lauar on 22 de janeiro de 2012 às 10:56 disse...

"Podem morrer as pessoas, mas nunca suas ideias."
(Che Guevara)

e eu acrescento... nem o amor e o carinho que semeou...

portanto, quem amou e foi amado, jamais estará morto, de fato,e nunca será enterrado...

com a sua sensibilidade de sempre, como grande Poeta que é, você, nesta carta-poema, mantem vivos no coração da sua filha, a memória do seu avô e o amor que recebeu e que lhe dedicou.

amei!

abraços

Du on 22 de janeiro de 2012 às 14:19 disse...

Cá estou, amigo-relicário! Feliz aniversário para o seu bisavô! Beijo!

Wilson Antonio on 22 de janeiro de 2012 às 17:22 disse...

Belíssimo post! Delicado e emocionante. Parabéns pelo post e pelo "Morcegos". Abraço, me tornei visitante frequente

Anônimo disse...

Que lindo e emocionante o seu post. Falar do avo e da filha, deve mexer o coração de uma forma tão forte, e voce conseguiu dar um drible na emoçao e ser "durão" para chegar ao post ate o final. Por que aposto que ele foi interrompido por algumas lagriminhas suas. Valeu, por que ficou uma beleza de uma cronica de amor a vida.
Felicidades para sua familia e otima semana.
Cam

Wilson Antonio on 22 de janeiro de 2012 às 20:02 disse...

A lista com os vencedores em cada categoria, que na verdade irá obedecer um processo de seleção apontando os melhor avaliados saídos da comparação das listas individuais de cada crítico do Lumi7 sai dia 30 de Janeiro. A lista de concorrentes para você votar no que considera os prováveis vencedores em cada categoria você encontra nessa mesma página onde pode votar através da sessão comentários.
http://www.lumi7.com.br/2012/01/premio-lumi7-de-cinema.html
Abraço!

Alan Raspante on 22 de janeiro de 2012 às 20:26 disse...

Uma bela homenagem, Dilberto.
Muito singela, ele deve ter sido um ser humano espetacular!

Unknown on 22 de janeiro de 2012 às 21:08 disse...

Oi Dilberto,

Muito bonito!
É sempre bom contar para os filhos e netos sobre os antepassados pois ele fazem parte de nossa História, de nossa tradição. Belo texto.

Quanto a critica que fiz, eu não queria ser lacônico nem enigmático, apenas descrever meu estado de espírito depois de assistir ao filme.
Respondendo sua pergunta a falha de Obi Wan foi seu pupilo Anakin Skywalker que passou para o lado negro da força tornando–se Darth Vader.

Abraços

Suzane Weck on 22 de janeiro de 2012 às 21:46 disse...

Linda e emocionante a homenagem que fizestes a teu pai.Deve ter sido uma pessoa muito especial,e a tua resolução de nos presentear com este belissimo"texto historiado" foi genial pois ficamos sabendo um pouco da tua história e sabendo também o porque de teu brilhantismo em escrever.{Tal pai,Tal filho.]E que bela maneira de trazer aos teus familiares esta lembrança para cultivar e ficar sempre na memória. Quanto a musica que gostarias,peço-te que envies um email para o André pois ele é quem guarda todo meu arquivo musical,e aí ele pode te enviar mais rapidamente.Será que mereço tanto? como já deves saber não sou profissional.Grande abraço.

Ruby on 22 de janeiro de 2012 às 21:55 disse...

Que cartamais linda! Escrever cartas realmente era uma prática de nossos antepassados e até de nossa adolescência, eu adorava eceber e escrever. Esta é uma forma de apresentar à sua Isabela parte de sua árvore genealógica e saber que realmente ele expressaria esse amor `a sua terceira geração. Doi mais em vc que o viu passar pelo que passou, mas teve a alegria de conhecê-lo. Eu conheci a minha bisa e ela era um encanto, não a esqueço nem as circunstâncias que levaram-na pra Deus. Parabéns pela crônica linda. Você é genial.

ANTONIO NAHUD on 23 de janeiro de 2012 às 20:03 disse...

Bela mensagem, amigo. Fiquei com vontade de fazer algo parecido...

O Falcão Maltês

ma66ie on 24 de janeiro de 2012 às 13:22 disse...

Que belo texto! Realmente emocionante! Eu também era muito ligada à minha avó. Essas palavras, de algum modo, fizeram me lembrar dela! Obrigada Dilberto!

Canto da Boca on 25 de janeiro de 2012 às 01:57 disse...

Escrever cartas hoje é tão raro, Dil, mas apesar da raridade, como é emocionanante ler esta em especial. Não se trata do fato de ser escrita na plataforma virtual, ou quiçá uma suposta "psicografia", o belo disso tudo, é você manter viva a história dele, que mais adiante, Isabela entenderá e conhecerá perfeitamente, isso é inefável!

 

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