quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Molduras


Cansei-me dos amores emoldurados
Cansei-me das amizades cansativas
Cansei-me do mais antigo cansaço
Cansei-me antes mesmo que me digas
Que estás cansado

Cansei-me da repetição, feito cantiga
Cansei-me dos poemas mais amargos
Cansei-me mesmo da vida e deste poema antes mesmo de ele ter começado

Mas, à morte, a poesia é mesmo assim:
Por mais cansado que eu esteja
Um poema, não me cabe guardá-lo...

(Dilberto L. Rosa, 1999)

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Miscelâneas...


Há muito tempo, não consigo precisar o número de anos passados (tenho dificuldades com isto), existia um espaço virtual coletivo que reunia um grupo de blogueiros para, diariamente, apresentar um texto de cada um dos seus integrantes, sobre os mais diversos assuntos, de acordo com o gosto e o estilo do redator do dia - equipe para a qual fui convidado já quase no final da existência daquele 'blog', que acabou assim, do dia para a noite, com a completa extinção do referido espaço da internet, juntamente à extirpação de todos os textos dos seus redatores (apenas com um comunicado, via e-mail, aos integrantes, que tudo se acabara, mas sem apresentar nenhuma razão - a dona da ideia, administradora da coisa toda, parecia ter surtado ou algo assim)... Seu nome era Miscelânea S/A, bem apropriado para um certo modismo da época, quando eram mais comuns 'blogs' coletivos (alguns sobreviveram até hoje) falando de uma saraivada de temas do agrado de cada integrante: Política, poemas eróticos, críticas e resenhas de Cinema etc.

Num breve exercício de análise, ao longo destes 8 anos de existência, os Morcegos apresentaram um pouco de tudo das tais "Artes em Geral" do título, porém, muito autocrítico, de certa forma sempre lutei para que este dileto espaço virtual não se tornasse uma "miscelânea", tamanha a enorme diversidade dos temas... Entretanto, tudo até hoje por aqui me pareceu costurado pelo universo 'pop', que permeia o estilo do 'blog' ao misturar assuntos tão díspares, de ensaios político-sociológicos a históricos de personagens em Quadrinhos, dando-lhes certa "liga"... E, ainda que certos textos "viajem" por muitos e variados temas numa só postagem, creio ser tudo muito "personalíssimo", a depender dos "arroubos literários" da intenção de cada crônica: "os escritos têm vida", costuma-se dizer por aí entre os escrevinhadores habituais...

E tantas variedades acho que acabam "ajudando" aqueles mais "tímidos" na hora de deixar um comentário: com tantos assuntos, dificilmente o visitante não terá um tema da sua predileção para deixar suas impressões - mas haverá quem diga que atrapalhe... De qualquer forma, quando voltei à blogosfera neste mês após meu autoexílio anual, depois de muito refletir sobre o assunto, decidi por retirar o espaço dos comentários dos Morcegos, mesmo isto significando o fim de uma maior interação com meus queridos blogueiros de plantão... A ideia me sorriu depois de uma espécie de "cansaço" com o passar dos anos: com cada vez menos tempo de visitar os vizinhos virtuais ("visite para ser visitado" é um dos lemas da blogosfera, nem sempre cumprido à risca...) e exausto de praticamente pedir "passando o pires" para alguns amigos, reais ou virtuais, a fim de uma visitinha e um "não se esqueça de comentar" - afora aqueles fanfarrões que, sequer lendo os suados textos, só deixavam um singelo "passei por aqui; passa depois no meu" (seguindo a máxima já mencionada) -, optei por não mais criar tantas expectativas quanto ao tema "comentários", bastando-me excluir o espaço correspondente a eles do 'blog'!

Qual não foi a minha surpresa quando, já na primeira postagem, começaram a surgir as reclamações! E foram tantos os pedidos, tão sinceros, tão sentidos (até de quem não costumava comentar, sequer apagava a luz quando saía do 'blog'!), que dominei minha ideia fixa anterior após a constatação final de uma enquete lançada neste espaço (17 votos a 3 quanto ao retorno da polêmica caixinha de comentários)... E, nesta espécie de "postagem especial" em "celebração" a tal "retorno", não poderia eu mesmo deixar de comentar sobre todos estes prolegômenos...

Assim, se o querido blogueiro de plantão ainda não estiver enfadado com a excessivamente autoanalítica postagem até aqui - mimetizando o estilo dos diálogos metalinguísticos do Mestre Machado de Assis, um grande escritor interativo numa época em que nem se sonhava com internet) -, acho que já é hora de partirmos para a "miscelânea" do dia, tal a soma dos muitos assuntos deste agosto de muitos temas e de pontas para inúmeras vertentes de comentários... Mas calma: num parágrafo apenas os Morcegos darão um breve rasante sobre tudo! Afinal, diante de tantos centenários ou outras celebrações quase seculares, nem temos fôlego mais para tantos vôos: teria que viver de blogagem para tanta homenagem - e passar outros 100 anos falando de todo mundo...!

Afinal, só neste mês, temos tantas datas especiais, que fica difícil abordar tudo num 'post' só... Como o de hoje, do majestoso cruzmaltino Gigante da Colina Clube de Regatas Vasco da Gama, que completa 114 anos de fundação (será que ainda sai título nesse ano?!) e o de 100 anos do multimidiático Tarzan, lançado como personagem de Literatura em 1912. Isso sem mencionar as saudosas datas de memórias: Alfred Hitchcock (nascido há 115 anos e tema da nossa última postagem), Elvis Presley (morto no ano em que nasci, ou seja, há exatos 35 anos - e tema de homenagens na fanpage dos Morcegos no Facebook) - de quem não sabia muita coisa até mais ou menos 1989, quando o querido Raul Seixas se foi, mas não sem antes me contar e me ensinar muita coisa sobre o Rei e seu legado magistral por meio de súditos como ele próprio, o genial Maluco Beleza... Sem falar no maior poeta brasileiro, Carlos Drummond de Andrade, que também era vascaíno ("Não digo que sou um vascaíno doente, pois doente é quem não é vascaíno") e nos deixou há 25 anos com bem menos Poesia, e sem poder esquecer o centenário do "Anjo Pornográfico" Nelson Rodrigues, o mais adorável "reaça" das nossas letras, com suas frases mirabolantes e textos (crônicas, peças de Teatro, contos) contestadores dos paradigmas familiares com suas taras intermináveis... Isso sem falar no aniversário de Euclides da Cunha, da morte de Getúlio Vargas...

Sem dúvida, um samba do crioulo doido (ou seria melhor "rock"?) juntar tantas vertentes, artistas, datas comemorativas e paixões desportivas - "Toca Raul...!" gritaria em alto e bom som se houvesse uma enquete (a propósito, tem uma nova ao final desta postagem) para homenagear alguém específico deste agosto do cachorro louco... Por isso, bom mesmo é revisitar os textos nos 'links' correspondentes, uma vez que este humilde espaço virtual já falou de quase todos e hoje prefere falar sobre "o nada"... Porque, uma vez preso a uma vida virtual de 8 longos anos, não serei eu o poeta de um mundo caduco, e, por isso, sigamos de mãos dadas, como diria o poeta-mor - mas hoje envolto em maior e maior interatividade virtual... Pois, se pra fazer sucesso hoje tem que reclamar (viva Raulzito), também entrei nessa jogada de Facebook e vamos todos juntos a compartilhar...

De qualquer forma, como os Morcegos andam cansados (e sempre atarefados...), mal comentando nos 'blogs' amigos, jamais fariam parte de um "time" novamente - vide os fracassos da "Família Morcegos" e do próprio Miscelânea S/A! Mas perambular pelas artes em geral e delas extrair uma gostosa garapa 'pop' com Poesia e uns acordes precisos um bom rock'n roll seguem sendo a tônica dos escritos por aqui - e, agora, de volta aos comentários, como diria aquele poeta: "Que sobre poesia/ Sobre tudo/ Sobretudo/ Sobre todos"...

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

13 de agosto:
115 Anos de Alfred Hitchcock


Recentemente, a revista inglesa Sight and Sound, do Instituto Britânico de Cinema, como costuma fazer de 10 em 10 anos, publicou mais uma de suas enquetes sobre os melhores filmes de todos os tempos e, para surpresa geral, após mais de 50 anos de hegemonia de Cidadão Kane no topo da lista, eis que Um corpo que cai assume, pela primeira vez, a ponta (saiba mais lendo aqui e aqui)! Nenhum demérito à obra-prima absoluta e inovadora do genial Orson Welles (que ainda acho superior ao clássico Vertigo, apesar de este seguir como um dos meus favoritos), somente uma constatação "atualizada" de que a obra de Alfred Hitchcock, cujo nascimento, há exatos 115 anos, celebra-se hoje (nada mais "apropriado" para o mestre do medo: 13 de agosto!), continua excelente e será sempre digna de novas revisões...

Apesar de inglês e de ter começado sua carreira na terra da Rainha, meu primeiro contato com este genial diretor foi com o seu primeiro trabalho nos EUA: Rebecca - A Mulher Inesquecível não me apeteceu de cara, dadas algumas de suas feições afetadas e teatrais comuns a uma boa parte das produções norte-americanas da época, só vindo a ver as qualidades daquele filme anos depois, quando pude perceber o artista por trás daquele formato 'mainstream'... Noutras palavras: Alfred era tão genial que conseguiu fazer um ótimo filme sem desagradar os modelos convencionais que o Cinema estadunidense queria ao lhe dar as boas vindas ao Novo Mundo! Rebecca levou o Oscar de melhor filme, mas o diretor por trás do espetáculo acabou injustiçado, sem premiação - curiosamente, ele não só jamais levaria o prêmio da Academia, como também nem um outro trabalho seu ganharia novamente como melhor filme...

Entretanto, com o grande sucesso inicial em terras ianques, Hitchcock espertamente acabou por estabelecer um "modelo" para seus próprios filmes: com tudo em estúdio para ter mais controle (especialmente quanto à sempre excelente fotografia, com raras filmagens em locações), trilhas sonoras inesquecíveis (o magistral Bernard Hermann foi o seu principal colaborador, criando para o mestre inglês grandes "hinos" do Cinema, como os violinos estridentes de Psicose ou a pulsação vertiginosa de Um corpo que cai) e elencos sempre muito bem dirigidos (que, dizem as más línguas, especialmente as das atrizes com quem trabalhou, o diretor tratava como "gado"), foi muito além do subgênero Suspense, do qual se tornou um símbolo, para explorar outras faces da Comédia (O Terceiro Tiro e Interlúdio: sofisticado), do Drama ("O Homem Errado", baseado em história real, com o ótimo Henry Fonda), do Terror (Psicose e Os Pássaros) ou da Aventura (Intriga Internacional e Topázio) - todos pontuados por uma inigualável técnica de contar histórias...

E, falando em histórias, difícil falar de Hitchcock sem mencionar seu lado multimídia inovador na época: além do Cinema, o então já consagrado diretor transformou-se numa espécie de "marca" referente a Suspense e não só teve lançados vários livros de contos por si selecionados, com sua figura rechonchuda sempre a estampar as capas (tendo eu lido um deles, do qual não consigo lembrar-me agora o título, mas que me impressionou bastante aos 13 anos de idade...), como também apresentou uma bem-sucedida série televisiva, Alfred Hitchcock Presents, cujas tramas baseavam-se em histórias cheias de suspense e selecionadas, tal como se dava com os livros, entre vários autores literários do gênero - uma delas, considerada impraticável para a televisão da época, cativou o diretor/apresentador a ponto de querer trabalhá-la no Cinema por causa do potencial de um certo assassinato num chuveiro...

Longe de entregar as coisas com facilidade, Alfred Hitchcock sabia como poucos envolver o público em suas tramas: nada de chocar com a explosão de uma bomba; melhor revelar ao público sobre a bomba e nos tornar seus cúmplices diante dos personagens inocentes, sem saber de nada... Nada de mistérios ou sustos gratuitos, Suspense não é isso: "Interesso-me menos pelas histórias do que pela forma de contá-las", dizia o rechonchudo cineasta, com jeito bonachão, mas sempre com fina ironia e humor sarcástico muitas vezes incompreendido... Sem dúvida, um grande contador de histórias, com bom humor em cada detalhe, desde o excelente 39 Degraus, ainda na fase inglesa, onde manipulava, com bastante ação e humor, uma investigação de espionagem, até seu último filme, Trama Macabra, com um adoravelmente cômico time de escroques! "É inútil ver em mim intenções profundas; não estou nem um pouco interessado pela mensagem ou moral do filme - sou, digamos, um pintor de flores..." disse, certa feita, o mestre inglês, talvez autoparodiando-se por sua tradicional "veia comercial" - uma injustiça: poucos conseguiram imprimir marcas tão profundas nas telas, ainda que em trabalhos sucessos de público... Um exímio artista no antigo sistema de estúdios, num popular, porém criativo, Cinema de autor!

Como esquecer, por exemplo, a viagem pelo apartamento (e pelo brilhante jogo de diálogos entre os personagens assassinos e seu professor) da câmera-personagem de Festim Diabólico - fiquei embasbacado quando vi pela primeira vez num antigo Corujão da Globo, procurando o próximo "corte" de edição (tudo foi filmado continuamente, com cortes quase imperceptíveis somente para mudar o rolo de filme)? Ou o nada discreto cenário visualizado pelo fotógrafo 'voyeur' acidentado de Janela Indiscreta, que, do seu apartamento, fica confabulando mil teorias sobre os vizinhos que acompanha por meio da sua teleobjetiva? Ou ainda os sufocantes ataques de Os Pássaros, naqueles incríveis efeitos especiais? Impossível... Se hoje a maioria dos jovens só conhece sustos e horrores explícitos cheios de sangue nas telas, escorria um singelo achocolatado na banheira de Psicose ao final da famosa cena do esfaqueamento no chuveiro - detalhe: o impacto da cena ainda hoje é grande, mas não se vê uma perfuração sequer!

E o que dizer do filme em questão, Um corpo que cai (Vertigo)? Um James Stewart inspirado, num dos seus melhores trabalhos como o policial aposentado por sofrer vertigens de acrofobia e que é contratado por um amigo para uma estranha investigação; uma Kim Novak nunca antes tão linda e sedutora em seu "papel duplo"; um mergulho psicológico no amor e no medo humanos, bem como a obsessão por algo que não se pode ter; o desejo ambíguo entre o real e o imaginário; o suspense misturado a doses de terror entre o real e a possibilidade do sobrenatural; um final impactante que já entrou para os anais da História do Cinema mundial; uma San Francisco onírica, uma trilha inesquecível (Hermann outra vez)... Tantos elementos reunidos resultaram no trabalho mais completo de Hitchcock, não à toa sempre lembrado em qualquer lista dos 10 melhores de todos os tempos! Já quanto a ser o primeiro, a desbancar este ou aquele filme, considero questão muito pessoal, que foge a uma racionalidade etérea de um "pódio" seguro... Eu mesmo tenho os meus 50 melhores (lista na qual Vertigo figura em 9º lugar) e muitos diretores famosos têm os seus critérios para os seus favoritos (confira aqui os "Top10" de cineastas como Woody Allen, Martin Scorcese e Quentin Tarantino)! De qualquer forma, o fato de Hitchcock galgar a primeira posição só mostra o quanto sua obra é perene e segue admirada até hoje...

Fato: ele nunca levou um Oscar para casa... E, justamente por este prêmio ser quase um sinônimo para grandes injustiças, Alfred Hitchcock, apesar de morto há mais de 30 anos, segue incólume e indiferente a isso como um dos maiores mestres da Sétima Arte, na mente assustada de milhões de admiradores de sua Escola... Prova disso é a escalação de uma de suas obras-primas ao posto máximo pela  famosa  revista inglesa! E, aos jovens baseados no sangue 'gore' ou nos sustos em alto Dolby Surround que ainda não conhecem o mestre inglês, talvez passem a saber de alguma coisa depois que assistirem a Hitchcock, cinebiografia sobre o diretor interpretada por Anthony Hopkins, prevista para o ano que vem... Que seja tão bom quanto Um corpo que cai (tarefa quase impossível!): quem sabe não passa a figurar como melhor filme daqui a 10 anos?


Onde está Alfred? Marca registrada em seus trabalhos, os fãs aficionados sempre se divertiram em descobrir onde o diretor aparece ao longo de cada um dos seus filmes. E você? Sabe de todas as aparições do mestre? Confira neste 'site' e divirta-se!

terça-feira, 7 de agosto de 2012

SuperBacana: Caetano faz 70 Anos!

Se Chico Buarque havia sido macho o suficiente para nadar contra a maré do rock que então surgia, compondo suas obras-primas em pérolas de um samba então esquecido, vindo a peitar, posteriormente, a Ditadura Militar do Golpe de 64 com suas "músicas de protesto", Caetano Veloso desmunhecava 'hippie' e seminu (ou mesmo completamente nu, como na capa de seu excelente disco, Jóia, com uma sugestiva pomba colocada posteriormente...), efeminadamente pungente numa censora sociedade, com suas guitarras tropicalistas ao fundo e proibindo proibir...

Ah, esse cara... Ele me foi "apresentado" por um cara "que se diz meu irmão" e, com o tempo, aquelas mil caras diferentes foram se tornando familiares para mim - "Por que esse Caetano faz tantas músicas difíceis?", no que Dilemberto às vezes me explicava corretamente, noutras inventava, da sua cabeça, acerca da origem deste ou daquele verso estranho ou cheio de referências... Meu primeiro contato? O cultuado disco Caetano Totalmente Demais  (1986), onde cantava "com o útero", como brincava meu irmão, clássicos como "Qualquer coisa" (demorei para entender aquilo...), interpretava, de forma única, clássicos de sua geração ("Amanhã", de Guilherme Arantes) e, de quebra, ainda me apresentava um gênio de gerações idas que, posteriormente, seria um dos meus ídolos, Noel Rosa (com "Pra que mentir"): inesquecível...

Depois, com um vizinho cujo padrasto era pródigo em comprar clássicos em LPs, conheci, com mais profundidade, a obra (quase completa) daquele gênio louco de Santo Amaro da Purificação (cujo lado "menino do interior" conheci depois, no ótimo documentário/show Circuladô Vivo). Nesta coleção, seus maiores sucessos vinham compilados numa edição luxuosa de um álbum com 9 discos, que incluíam minha então seleção completa de favoritas para uma fita K-7 - como eu gravei fitas com Caetano... Até com um dos seus trabalhos mais fracos, Tropicália 2, que tinha pelo menos uma genial, "Desde que o samba é samba". Minhas favoritas para gravar? "Coração Vagabundo", "Domingo", "Remelexo", "Avarandado" (todas oriundas de um dos meus discos favoritos, seu primeiro e mais bucólico LP, Gal e Caetano Domingo, de 67), "Tropicália", "Clarice", "No dia em que vim-me embora", "Alegria, Alegria", "Onde andarás" (do seu disco mais completo, Caetano Veloso, de 68), "Baby", "Panis et circenses", "BatMacumba" (de Tropicália, seu disco seguinte, aquele que inaugurou o famoso movimento...), "Irene", "Pipoca Moderna", "Eclipse Oculto", "Leãozinho", "Trem das Cores", "Muito Romântico", "O quereres", "Sampa"... Bom, talvez precisasse de mais que só uma fita K-7... 

E, como que caminhando contra o vento, Caetano sempre soube se reinventar: camaleônico, foi cosmopolita num mundo ainda longe da globalização e passou por clássicos italianos, espanhóis, e tornou clássicas velhas e esquecidas breguices geniais; como um estrangeiro, viu o carnaval da sua amada terra mais distante com a mais tropical das visões poéticas ("Atrás do trio elétrico", "Samba, Suor e Cerveja", "É Hoje"); e, hoje, um grisalho e bonito Caê, de voz mansa e com algumas modéstias (em meio às comuns arrogâncias geniais), equilibra uma vigorosa carreira em que sempre se inova - vide um dos seus últimos trabalhos autorais, (cujo show tive o prazer de ver aqui, no Castelinho), onde é impossível quedar-se indiferente às quase-adolescentes provocações de suas músicas irregulares, porém divertidíssimas! Um adolescente mesmo: anda agora só falando de sexo esse menino...

Li numa matéria recente que o cara não quer fazer alarde de sua bela nova idade, longe de desejar que seus 70 anos virem "um evento"... Evento foi ele nesta estrada: cineasta, apresentador, produtor, escritor, arranjador, compositor e cantor... E, para um SuperBacana como Caetano, um feliz aniversário: deixem-no cantar, que é pr'o mundo ficar odara e beleza pura... 

E por que não?

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

OS MORCEGOS RESSURGEM:
Batman nunca morre...


O melhor do filme? As inteligentes ironias da Mulher Gato com vários mitos do Homem-Morcego, na bela atuação de Anne Hathaway.

Já disse isso em crônicas idas, mas sempre posso dizer outra vez: há na minha vida um pequeno marco especial que guardo com carinho, aquele momento em que cada um passa a "entender-se por gente" e as descobertas passam a ser algo corriqueiro num então recém-inaugurado processo de crescimento - este marco se deu para mim aos 12 anos de idade...

Naquele ano, no colégio, forjei meu primeiro grande amigo, que, por sua vez, mostrou-me o Cinema que conhecia: não a Arte que eu viria a conhecer depois, mais velho, a partir de Fellini, mas uma arte por trás do entretenimento mágico daqueles já clássicos anos 80. Assim, rapidamente, tornei-me amigo da galera do Dr. Venckman, de Marty McFly, do Dr. Jones, do policial Alex Murphy, bem como de Peter Vincent, Jason Vorhees, Freddy Kruegger... Ali descobri que Cinema era Magia e aquele aparelho de videocassete (até essa "aula" sobre o nome correto do equipamento aquele cabra que me explicou), comprado naquele ano por meu pai, terminou de me mostrar o quanto minha oclusa vida de estudante CDF um tanto quanto distanciado dos esportes poderia render-me longas viagens cheias de aventuras a mundos fascinantes na eternidade das costumeiras duas horas de uma boa fita...

Sim, o tempo passou e fitas são coisas históricas (apesar de guardar algumas, mesmo mofadas, para não enterrar de vez o passado...) e, se DVD já começa a ficar obsoleto diante dos aparelhos cada vez mais sofisticados de exibição, o que dizer de um mais do que obsoleto VCR! Mas, naquela época, dizer para um garoto de 12 anos que se podiam gravar os seus filmes favoritos era a glória máxima de tecnologia de que eu precisava... E o amigo? Ele me ensinou a gravar, editar os "plim-plins" (para que o filme ficasse com cara de uma coisa só, sem os comerciais da Tela Quente ou da Sessão da Tarde), a programar aquela "máquina" a gravar em horários madrigais, quais as melhores marcas de fita (que é, na verdade, o videocassete propriamente dito) etc. e etc.

E eu já conhecia os heróis: sim, já havia visto, pela primeira vez, aos 7 anos, Superman - O Filme, num longínquo Supercine de algum sábado de 1984. Mas, novamente, foi aquele meu amigo que terminou sua "missão" apresentando-me "o herói", aquele cara fantástico que, mesmo sem os poderes de um Homem-Aranha, que eu já havia visto aqui e ali nalguma revistinha que meu irmão mais velho comprara algum dia, ou os de um maravilhoso Super-Homem, "mudando como um deus o curso da história por causa da mulher" no inesquecível filme de 78, um homem normal também podia combater o crime com suas habilidades físicas e mentais e ainda ter o sombrio charme de um detetive atormentado: Batman, aquele famoso blockbuster dirigido por Tim Burton e com a famosa (e genial) trilha de Danny Elfman, fora a minha porta de entrada para descobrir o meu herói favorito. Corria o ano de 1989...

1990 chegou e, com ele, uma nova década de um Cinema de entretenimento (bem como uma Cultura como um todo) bem mais esvaziada de Magia, conteúdo e de qualidade, numa eterna sensação de reciclagem de tudo que já se havia feito nas artes até então, com raríssimas e honrosas exceções... Tanto que meu próprio herói favorito sofreu naquela época três filmes fracos e esquisitíssimos (especialmente pelo fato de eu já acompanhá-lo pelos Quadrinhos e saber bem que tudo andava mal na telona para o Homem-Morcego)! E meu amigo? Bom, meu amigo voltou para sua terra natal e perdemos por completo o contato...

Um pequeno salto no tempo. Em 2004, já em meu primeiro trabalho como advogado num escritório, depois de uma vida de poemas e crônicas perenes, porém sem uma constância precisa, passei a dividir minhas obrigações jurídicas iniciais com a criação, três vezes por semana, de textos para uma "nova" tecnologia que então já dominava o mundo: a Internet e seus blogs me foram apresentados, desta vez, por uma outra amiga de infância e acabaram por se tornar meus novos e queridos "brinquedinhos", tais quais as adoráveis traquitanas de um cinto de utilidades virtual - agora, escrevia constantemente e caprichava nas minhas apresentações visuais para uma fixa plateia de amigos próximos e fiéis em suas leituras, universo que rapidamente se expandiu para amigos de além-cidade, estado, país...

O "endereço"? Um já extinto site de hospedagem, o Weblogger (mudei-me para o Blogspot em seguida, onde estou até hoje). O nome do espaço? Morcegos. Um pouco por causa do meu primeiro poema homônimo, um tanto por causa das referências pop em volta do meu personagem favorito das HQs (e eternizado na imagem que minha adorável amiga encontrou para o layout, um "batsinal" numa lua, tudo com um ar inteligentemente trash e retrô, símbolo que se tornou do meu blogue até hoje), de quem falei várias vezes. Enfim, mesmo sem eu me dar conta, 2004 já era um novo "marco" em minha vida...

O curioso é que, no ano seguinte, dois "retornos" incríveis aconteceram: após o ridículo carnaval baitola dos "batmamilos", finalmente respeitavam a seriedade de Batman numa versão cinematográfica bem realista em Batman Begins e finalmente, graças à visualização com o blog, meu antigo amigo "ressurge", dando um reboot na velha e saudosista amizade: ele me encontrou por causa dos Morcegos e não demorou muito para as antigas "pautas" cinematográficas adolescentes se fazerem presentes em longas conversas telefônicas e via Skype sobre os bons tempos que pareciam estar voltando: tudo começava novamente ali...

E hoje me encontro em frente ao computador, a digitar estas "mal traçadas linhas" virtuais nesta dilatada madrugada, tal como nos tempos madrigais de minha adolescência, logo após assistir a Batman O Cavaleiro das Trevas Ressurge neste mesmo PC - sim, numa ótima cópia pirata virtual que deixei baixando antes de sair para o trabalho agora à noite, tamanha a ansiedade "infantil" em ver o término da tão boa trilogia desenvolvida por Christopher Nolan e tamanha a "adulta" falta de tempo de ir ao cinema em que me encontro desde a estreia do filme na última sexta-feira, 27... E revejo toda essa "história" em minha mente, tudo sedimentado em tantas camadas quanto as várias versões que o meu herói favorito já teve, que me pego gostando deste terceiro filme! "E não era pra gostar?", poderia perguntar algum entusiasta mais aguerrido, no que eu responderia que, após tantas mudanças de tom em relação aos dois primeiros filmes, este encerramento de trilogia, por muitas vezes, soou antiquadamente equivocado...

Sem dúvida o mais "quadrinhos" dos três filmes, parece que o tom realista do diretor abriu demais a mão para concessões "simpáticas" ou mesmo bobas demais na condução das tramas (surge um novo Vader: soluções caricatas para vilões "indestrutíveis") e acabou perdendo a mão no roteiro (situações forçadas, como o primeiro encontro com Bane, a "bomba à anos 60" que deve ser despejada na baía ou ainda os exageros toscos de ver bandido com metralhadora na mão esperando pra levar porrada do Morcego ou Selina montando e mandando ver num batpod que nunca antes pilotou, só para não revelar muito mais...) e, naquilo que os seus sucessores ficaram prejudicados com tanto realismo, este filme acabou se saindo mal por completar tudo em "outro estilo"...

Mas, se como filme é o mais fraco, como desfecho de trilogia (ou, mais especificamente, como "continuação" de Batman Cavaleiro das Trevas) funciona muito bem: como eu disse, são muitos Batmans ao longo de uma história de mais 70 anos de existência do personagem, bem como já se vão tantos anos das minhas iniciações dos idos de 89, que posso dizer que dá para parar tudo (e adiar uma sempre tão importante e almejada boa noite de sono) e assistir, "maduramente", com um sorriso no rosto e com a empolgação de sempre (re)descobrir um personagem que, pelo menos pra mim, é símbolo de uma fase de primeiras descobertas - e, agora, de "ressurgimento"... Viva o herói que nunca morre, não só nos arcos de histórias que inventam para vendar mais revistinhas, matando e "ressuscitando" os personagens mais importantes da editora, como também nos já sempre poéticos finais de Nolan, como em A Origem, onde nem sempre é o que parece ser (atenção para os detalhes...)...

Agora, 2012, com vidas consolidadas, perdas e ganhos de gentes, dinheiros e sonhos que ainda não se realizaram e uma linda filha no meu humilde currículo, aquele velho amigo ressurge com força total a me impulsionar, há pouco tempo, a escrever o argumento de uma ideia antiga: "Vai, usa esse teu dom e escreve um roteiro para a gente ganhar subsídio do Governo federal e fazer nosso filme sobre aquela época incrível, finalmente" - e eu fiz, escrevendo 10 Anos de Cinema em tempo recorde para inscrever no concurso cultural... Não ganhei, tendo apenas sido selecionado na primeira fase, e lá se foi a honorável verba para começar algo completamente novo em minha vida (ele já trabalha com áudio-visual; eu fiquei na burocracia)... Mas não tem nada, não: "estamos aí", imergindo quando preciso, mas ressurgindo sempre - afinal, "para que caímos..."?

Já passa da hora de dormir e encerro parcialmente o que eu tinha pra dizer. Porque sempre se tem algo novo para contar sobre ontem, sempre a se acumular uma nova camada para melhor se sentir a vida e aprender um jeito novo hoje de melhorar o amanhã. Falando em amanhã, ou melhor, daqui a pouco, vou acordar cedo e me preparar para as rotinas diárias, mas acho que, mesmo cansado, estarei melhor com mais essa "camada": os Morcegos estão de volta, em nova fase renovada, e eu terei sido o super-herói da minha madrugada de simples recordações perenes... E viva o Cinema, sempre a recriar personagens das nossas infâncias e a ensinar novos consumidores de Quadrinhos, fazendo tudo o de melhor ressurgir pouco antes da hora de dormir - ou já tendo passado bastante dela...

Ah, os nomes dos meus amigos? A eles dedico este filme (se ainda não viram, vejam já, de preferência nos cinemas!) e esta afetuosa crônica: José Henrique Spencer Leão, o "Rei de Nova Iorque", e Adriana Bello, a "Divindade do Recanto". Saibamos sempre a hora de jogarmos as bombas nos lugares apropriados...

“Tem dias que você simplesmente não consegue se livrar de uma bomba!!!” Adam West, como Batman, no filme Batman O Homem-Morcego, de 1968. Ré, ré, ré.



 

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