Tirando uma ou
outra edição especial de relançamento das boas histórias antigas, que sempre
comprei com gosto, eu me afastara completamente do universo de
Mauricio de Sousa há bastante tempo. Seja por causa da falta
de originalidade a partir do comecinho dos anos 90, com visíveis
empobrecimentos dos traços e dos enredos (muito em razão da desenfreada sana do
desenhista-empresário em atingir tantas mídias e faixas etárias ao mesmo
tempo), seja pelo excesso de personagens que começou a inundar as revistinhas,
o nível caiu ao de uma mesmice infantilizada, quase de apenas uma vitrine para
venda de produtos licenciados (bonecas e brinquedos em geral, roupas, DVDs em
série etc.)...
Isso até o período entre o final do ano
passado e o começo deste, quando um dos meus personagens mais queridos, o
adorável caipira criado para tirinhas de jornal em
1963, Chico Bento (que, assim como a
Mônica, começou como coadjuvante), surgiu com duas novidades que me
motivaram a voltar aos Quadrinhos MSP: Chico Bento Moço, que, apesar da atraente premissa
sentimental sobre os meninos da roça nos primeiros dilemas da juventude, como a
faculdade, decepcionou-me bastante e não passa de uma fraca transposição do
estilo da ruim de Turma da Mônica
Jovem para o pessoal do interior, com o
aborrecido traço no estilo "mangá" (tanto que fiquei só no primeiro
número, com o Chico indo cursar Agronomia na "capitar"); e, do
finalzinho de janeiro vem a divertidíssima Clássicos do Cinema 41 - Super-Home, com levada no
melhor estilo MAD a satirizar não só a melhor adaptação
cinematográfica de HQs de todos os tempos, o clássico Superman - O
Filme (com direito a Chico Bento como Chickael/Clark Bent e
Zé Lelé como Lelex Luto!) como também a homenagear inúmeros outros grandes da
Ficção Científica, como E.T., o pessoal de Guerra nas Estrelas, dentre
outros – diversão
nerd garantida para todas as idades!
E olha
que esta minha grata surpresa vem a ser o primeiro exemplar que compro de uma
linha que brinca com filmes de sucesso: fiel à boa simplicidade dos
"planos infalíveis" do Cebolinha ou ao mundo de inocência debochada
do Chico de até então, por exemplo, não curtia muito aquelas historinhas
metidas a engraçadinhas distantes dos universos normais do Limoeiro ou da Vila
Abobrinha... Talvez por isso jamais tenha gostado das mais novas incursões da
Mauricio de Sousa Produções, as tais graphic
novels da linha Graphic MSP, com releituras mais adultas ou
realistas dos seus antigos personagens por novos e
grandes nomes
do Quadrinho nacional, como Danilo Beiruth (Astronauta -
Magnetar), Vitor e Lu Cafaggi (Turma da Mônica -
Laços), Gustavo Duarte (Chico Bento - Pavor
Espaciar) e, mais
recentemente, Shiko (Piteco - Ingá):
à exceção da saudosista Laços (já comentada
por aqui), nenhuma delas me cativou, uma vez
que nada guardam dos originais, jamais criando empatia
para leitores mais tradicionais como eu...
Se for
para ver novas caracterizações dos famosos tipos do Mauricio, prefira a
divertida MSP 50: Mauricio de Sousa por 50 Artistas, onde grandes
talentos do traço nacional (veteranos Laerte, Ziraldo e mais
jovens como Fábio Moon e Gabriel Bá) respeitaram bem mais os medalhões da casa
com suas versões afetivas da Turma da Mônica, do Chico Bento e de outros
adoráveis secundários (Louco, Astronauta
etc.) – de tão boa, já gerou duas continuações e outros tantos
correlatos (como o recém-lançado Mônica(s)).
Mas nem
só de modernidades caça-níqueis ou releituras por outros artistas vive o
império deste super-ativo octogenário: houve um tempo em que o Mauricio
era um cara tremendamente criativo, ali por entre o seu apenas razoável começo
de carreira nos jornais dos anos 60 e o seu auge nas revistinhas da Abril dos
anos 80 – são dessa época os quase desconhecidos do grande público
Os Sousa, referência
ao sobrenome do próprio autor, com piadas de comportamento sobre uma
família de classe média dos anos 70 que funcionam bem até hoje, e Nico Demo, humor politicamente incorreto com um
garotinho (nem sempre) inocente diante das tragicomédias da sociedade.
Infelizmente, nenhum dos dois teve vida longa nos Quadrinhos: sem obter o mesmo
sucesso das "turmas" famosas, as poucas tiras publicadas encontram-se
hoje em dois livrinhos de bolso da editora L&PM Pocket...
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