Correndo para alcançar Isabela, que ainda reluta em
pegar minha mão em público, em mais um claro sinal de rebeldia aos 4 anos em meio à multidão de
pessoas num shopping no último sábado à tarde (ah, o que não
fazemos pelos filhos...), deparo-me com um rosto amigo no meio daquele amálgama
de gentes, igualmente dominado por sua filha de aparentemente igual idade (só
que esta calmamente sentada, assistindo a um vídeo da Disney num quiosque), a
sorrir pra mim antes que eu dele me desse conta:
– Luciano...!
– E aí, rapaz...?
– Você existe mesmo... Pensei que só fosse uma
lenda!
Rimos juntos e, ignorando o “protocolo macho
maranhense” (onde, entre outras coisas, apregoa que homem só se abraça de lado,
no máximo com uma leve batidinha na barriga do amigo), emendei nele um efusivo
abraço de frente mesmo, comentando, de cara, sobre nossas renitentes aversões
às novas tecnologias em comum: eu sigo com um celular "último tipo de
2010" e sem whatsapp, e ele, sem perfil nas badaladas redes
sociais.
– Mas isso está mudando: por causa do meu trabalho,
já tenho um perfil pelo Face, mesmo sem saber mexer direito
naquilo... Por isso eu não sei te dizer qual é o meu perfil! – Luciano admitia.
Nem preciso me alongar nos prolegômenos: obviamente
que, para chegar à nostalgia dos 20 anos de separação do tempo em que estudamos
juntos no Colégio Dom Bosco que realmente interessam, primeiro perpassamos o
universo da nossa maturidade dos últimos tempos sem contato, no famoso trecho
"E o que tu andas fazendo?", deixa inicial para falarmos do
profissional... Daí a sua esposa chega e, de professores trabalhadores, viramos
pais – bom, eu estava dando um rápido passeio para agradar a mais velha enquanto
Jandira Helena ficava sozinha com os gêmeos recém-nascidos em casa; já eles esperavam
para o final do ano outra futura adoradora das Princesas e espectadora da
Disney bem ali, “embaixo” de nós... Entretanto, mesmo distante das novas
vertentes, já sabíamos um pouco disso tudo por
outros amigos (pelas redes sociais e pelo whatsapp!)... E, depois
de uma “pausa contemplativa”, continuamos:
– Grande "Luizão"...
– "Luizão"... Tu te lembras disso!
– Ah, rapaz, eu me lembro de muita coisa... Lembra
quando a gente apelidava todo mundo como os super-heróis da moda na época? Eu
era o Wolverine (o porquê, jamais saberei: sempre fui tão pacífico...); Allan
Sena, o Sinistro; Antonio Diaz Araújo, o Gambitt (de gambá, por causa
dos tempos franceses...): eram mutantes aos montes... E aquela nossa amiga,
louca por ti, que vivia me pedindo ajuda de cupido: vocês chegaram a namorar,
não? Aquela turma do terceiro ano era ótima... "Que que eu vou dizer lá em
casa: chuuupa que a cana é doce... Pelo amor dos meus filhinhos!"...
Bom, na verdade não falamos de nada disso, não...
Existiu, sim, o amigo com humor à Groucho Marx, destruidor e implacável como
uma metralhadora giratória de piadas e sarcasmos embutidos em sutis frases de
hilárias conversas nos recreios da nossa boa época de adolescentes no Dom
Bosco, onde sempre brincávamos uns com os outros com os jargões futebolísticos
então na moda, no melhor estilo Sílvio Luiz (Luciano mesmo adorava pegar no meu
pé sobre as minhas “peripécias” como goleiro nas peladas da saída de toda sexta,
quando me chamava de "goleiro bailarino"), tagarelávamos por entre
filmes de heróis (adorava as suas observações sobre o preciosismo do voo de
Christopher Reeve) e nos enrolávamos com amigas enamoradas mais do que os
personagens do seriado Friends – afinal, todos nós, naquela
época, namoramos nossas amigas da turma (alguns, até mais que uma...) e o
engraçado é que somente eu viria a me casar com a amiga-namorada daquela época
(mas isso fica para uma outra crônica...)!
E, assim, somente este envelhecido papai cansado
aqui é que ficou a ver as imagens passadas virtualmente, só podendo se lembrar
de tudo isso internamente, como que numa pequena tela dentro da minha visão de
um Robocop da ficção científica do melhor dos anos 80,
enquanto a realidade seguia... E com Luciano a coisa toda não parecia muito
diferente: aquele cara hilário quase não se fez presente naqueles minutos de
alegria de reencontro juvenil... Não que o tempo o tivesse tornado amargo,
longe disso: estavam lá o mesmo sorriso e a ágil inteligência dos bons tempos
no bate-papo sempre descontraído, mas um importante telefonema a nos
interromper, um “vumbora, papai” da minha filha e o inimigo-mor de todos nós,
os mais nostálgicos, o tempo, ali, a nos convidar a nos retirarmos para cuidar
logo dos nossos afazeres sociais e familiares, acho que acabou por nos
esmaecer... Não sem antes, porém, o velho e inócuo convite do “apareçam lá em
casa quando estiverem aqui em São Luís” quase não encontrar eco no casal amigo,
sabidamente que não me visitarão tão cedo...
Pausa para uma foto, que sabe lá Deus quando verei
(– Bota no Face...! – Vou te adicionar e tu olhas... E ele
jogou no ZapZap!) e lhe digo que ele é um dos melhores, que gosto
por demais do amigo de longa data, cuja simples lembrança me traz um sorriso à
mente, no que ele retribui, com a gentileza de sempre: – Você que era o
melhor: poxa, sem modéstia, rapaz... Você foi uma inspiração pra todos nós... –,
no que apenas sorrio, sabendo que a que ele se referia ficou, pelo menos por
ora, no passado... E assim, despedindo-se com sua esposa grávida e linda
filhota a tira-colo – que, só para tirar sarro, fui logo dizendo quando
cheguei Que bom que puxou à mãe (no que ele rapidamente
retrucou no seu melhor estilo do passado Se dissesse que era a mim, eu
diria que o importante é ter saúde...) –, vi aquele cara, que tanto me
agradou em companhia nos últimos dois anos do ensino médio, dar as costas para
o tempo moleque enquanto acertava os últimos detalhes com um amigo, pelo celular, sobre mais
uma viagem a Buenos Aires como pesquisador em sua área...
Só me restava, então, rir sozinho nas minhas
reminiscências sobre Luciano e levar logo Isabela para o entupido e sem graça
parquinho do shopping antes que a noite caísse “de com força”
e Jandira me ligasse aflita para que voasse para casa para ajudar com os gêmeos
– mas voando no melhor estilo Super-Homem, com o devido cuidado de direcionar o
voo usando as mãos tal como bons lemes, não é mesmo, "Luisão"?! E a foto? Até hoje não sei se ficou boa: o danado a postou no tal do ZapZapp!
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