Não, não se trata da velha aposta entre amigos do
"Oscar" (dito de forma aportuguesada e oxítona) e já tratada por aqui
em postagens anteriores - mas não por falta de tentativa: até tentei um contato
telefônico derradeiro para falar da minha listinha de possíveis ganhadores,
poucas horas antes da premiação hollywoodiana,
mas, não tendo muito retorno em empolgação por parte de um velho amigo, acabei
desistindo da antiga tradição... A tal Lista
do Oscar, desta
vez, refere-se aos bons filmes concorrentes a que pude assistir antes (maioria) e depois da noite
da badalada cerimônia - que, por sua vez, não pude ver na íntegra (ah, como eu
estava louco para ver o apresentador deste ano, o grande Chris Rock, passear, na
sua abertura, sobre as recentes polêmicas em torno da falta de inclusão
racial): a indefensável Sky me
deixou sem sinal no final de semana inteiro e tive de me contentar com o que a
deplorável Globo costuma exibir somente depois de sua ainda mais deplorável
programação habitual (naquela cobertura ridícula, com "comentários"
perdidos de um Arthur Xexéo procurando anotações numa agenda (!) e uma Glória Pires aparentemente dopada - que saudades do
finado Zé Wilker)...
E, já que o Oscar foi entregue em 28
de fevereiro, há praticamente um mês, a ideia dessa postagem "atrasada" nem é falar da premiação em si, mas, sim, listar e comentar os melhores a que pude assistir dentre os indicados (em todas as categorias) e que, não necessariamente, foram os mais premiados (alguns deles nem levaram nada! E, como só vi três dos indicados no cinema (Star Wars, A Grande
Aposta e O Regresso),
posso dizer que, no meu "cinema
em casa", estes foram os
melhores filmes que vi, entre somente indicados e ganhadores, por ordem de
importância e qualidade! Sim, pode-se dizer que foram poucos, porém, diante
do meu tempo sempre escasso e do pífio número dos que a Glória Pires viu (e que, por
isso, sempre surgia durante a transmissão com a pérola já viralizada na internet "- Esse eu
não vi: não posso opinar"), ainda menor que o meu, até que consegui um
grande feito! A vantagem é que, para além da festança milionária e da situação
de "filmes do Oscar",
os títulos desta minha humilde listinha ficarão ainda por muito tempo para
belas conferidas posteriores, em qualquer época...
1.º - O Menino e O Mundo
2.º - O Regresso
3.º - Mad Max - A Estrada da Fúria
4.º - Divertidamente
5.º - Spotlight - Segredos Revelados
6.º - Ponte dos Espiões
7.º - Amy
8.º - Star Wars Ep.VII - O Despertar da
Força
9.º - 007 contra Spectre
Para começar, Perdido
em Marte e A
Grande Aposta, honestamente, sequer deveriam ter sido
indicados em qualquer categoria - o que dizer de vencer em alguma (como foi o
injusto caso do segundo) - e, por esta razão, sequer os citei nesta minha
humilde lista, considerando os meus quesitos de qualidade... O primeiro,
dirigido por um sonolento Riddley Scott e interpretado por um Matt Damon no piloto automático (na verdade, em
sua mesma interpretação de sempre - e que, por incrível que pareça, acabou lhe
valendo uma indicação a Melhor Ator!), se não prometia muita coisa, revelou-se
como uma ficção científica sem tempero e sem razão de ser, jamais dizendo a que
veio, o que me fez largá-lo na metade na primeira vez em que tentei vê-lo
(confesso que dormi...) e, na segunda e derradeira, só pude constatar que,
nessa "indústria cinematográfica" (dois nomes que, pra mim, jamais
poderiam casar-se: indústria e cinema), produz-se qualquer coisa, ainda que não
se tenha nada a dizer ou mostrar com uma obra... Pelo menos, neste caso, fez-se
justiça na premiação: a insossa ficção científica, sem suspense, drama ou
qualquer outra situação que valesse as mais de duas horas de projeção, saiu da
cerimônia de mãos abanando!
Já o segundo merece um parágrafo à parte (claro que não pelas
qualidades, mas pela ausência delas!): a tal "aposta" do título até
fazia sugerir, juntamente à boa edição do trailler quando
do seu lançamento, que a "trama" envolveria um grupo de amigos que,
descobrindo a iminente implosão da bolha imobiliária no super-especulativo
mercado de ações estadunidense, resolveriam "dar o troco" e ganhar
milhões com algum incrível golpe, tudo conduzido numa divertida pegada cool... Só que não!
"Pegada cool"
ele até força na primeira metade, nos momentos em que abre algumas
"janelas" a interromper a narrativa convencional para que algum
"convidado especial" (dentre eles, Selena Gomes!) viesse explicar
aquele universo inexplicável das ações imobiliárias! Mas, na verdade, o
diretor/roteirista Adam McKay (indicado nessas duas categorias e,
surpreendentemente, vencedor do Oscar
de Melhor Roteiro Adaptado!) não consegue criar nada além disso - e,
justamente, porque, no filme inteiro, não há nada além disso:
personagens que não interagem entre si (à exceção dos jovens ambiciosos com um
Brad Pitty no melhor estilo Redford) e sem maiores dramas pessoais que cativem
o espectador (a não ser uma premissa apresentada sobre um irmão suicida do cada
dia melhor Steve Carrell -
indicado, no ano passado, pelo seu primeiro papel dramático) se sucedem na tela
em meio a diálogos intermináveis e exaustivamente técnicos sobre aquele
universo chato e incrivelmente sonolento (mesmo no cinema, onde nunca durmo,
sofri vários cochilos batendo a cabeça pra trás)... Em suma: chato, pretensioso
e esquecível!
Então, para começar a falar da nossa lista dos melhores dentre os
indicados deste ano, nada melhor do que começar com duas das franquias antigas
mais queridas dos Morcegos, que, com novos e muito aguardados filmes lançados
em 2015, reacenderam paixões adormecidas de nerds de
diferentes idades e corriam por fora no páreo: o reboot/remake da
Disney/Lucas de Star Wars com o seu
nostálgico O Despertar da Força, mesmo
indicado em cinco categorias técnicas, acabou saindo sem nada; e o eterno "espião mais famoso do Cinema", James Bond,
no seu revigorado em ação e diversão 007 contra Spectre (apesar
de esperar mais da volta do genial vilão Blofeld - agora na pele do ótimo
Christopher Waltz -, este filme foi, sem dúvida, o melhor da safra com Craig
desde a pequena obra-prima Cassino Royale, fechando a trama inciada nesse filme de 2006), que acabou levando Melhor Canção com a
"estranha" e "polêmica" Writing's on The Wall,
com seus falsetes e intervenções melodiosas açucaradas, do inglês Sam
Smith... Polêmica porque muito criticada e considerada o
"patinho feio" da competição (a badalada 'Til it happens to you, composta e interpretada por Lady Gaga, tema do
conceituado documentário The Hunting Ground sobre jovens
estupradas em universidades, parecia ser a favorita)... De qualquer forma,
depois das canções da Disney sempre vencerem nessa categoria, parece que, após o Oscar com a belíssima Skyfall,
de Adelle (2012), o prêmio de melhor canção, a partir de agora, tem que ser para um
"filme de James Bond"!
Essas longevas e amadas cinesséries, porém, ficaram nos últimos
lugares dessa mais nova lista dos Morcegos (oitavo e nono lugares,
respectivamente) - que consideraram um documentário inglês em melhor
posição: Amy emociona
e não toma partidos ao narrar o envolvimento dos vários personagens reais (pai,
namorado, ídolos, melhores amigas, fãs e imprensa) na tumultuada vida da
brilhante cantora e compositora Amy Winehouse, falecida precocemente aos 27 anos em 2011, merecidamente ganhador como Melhor Documentário e nossa sétima posição! Um
pouquinho acima, em sexto, o bom A
Ponte dos Espiões, apesar de perder em ritmo e suspense ao longo da
projeção (o filme começa muito bem, rendendo inclusive belas homenagens à
edição de clássicos dos anos 50/60, época da sua trama), com um Tom Hanks fraco
e sem brilho (seu protagonista parece uma rocha impassiva diante de tantos
acontecimentos ameaçadores!) e um enredo que bem poderia ser melhor e trazer Steven Spielberg de volta
aos bons tempos dos grandes dramas políticos, surpreende (nosso sexto lugar),
cativa e prende a atenção até o final com a história real sobre um advogado e
seu dever de bem defender um espião comunista (Mark
Rylance, Oscar de
Melhor Ator Coadjuvante, desbancando o favoritismo de
Stallone e seu intimista Rocky de Creed: Nascido para Lutar e
o assustador vilão de Tom Hardy em O
Regresso) contra toda uma opinião pública da Era do Macarthismo - tema bem
oportuno em épocas negras de volta a temas fascistas nos EUA e de polarização
Esquerda vs. Direita no Brasil...
O que mais se comenta até agora, no entanto, mesmo um mês
depois da comercialesca festa hollywoodiana, foi a surpreendente (pelo menos
pra mim) escolha de Melhor Filme para um apenas correto e
competente, porém nada espetacular, drama de investigação, Spotlight - Segredos Revelados,
no estilo do clássico Todos os Homens do Presidente, porém
infinitamente inferior, a narrar, por meio de um elenco impecável e um roteiro
bem enxuto e amarrado (não por acaso, também levou o Oscar de Melhor
Roteiro Original e, neste quesito, era uma das minhas apostas), a história real de um
grupo de jornalistas norte-americanos que decide revelar os primeiros
escândalos sobre os abusos sexuais cometidos por padres católicos contra
crianças em Boston - o que depois se revelou como acontecido no mundo inteiro
-, ficando, na Lista dos Morcegos, apenas com o quinto lugar, atrás dos
favoritos (e era pra eles a minha torcida maior) O Regresso e Mad Max! Mesmo o sempre
subestimado subgênero da Animação a mim surpreendeu mais que o considerado pela
Academia como Melhor Filme: o ótimo Divertidamente trouxe
a Pixar de volta à
criatividade perdida desde Up com
a inteligente e diferente narrativa sobre a vida da menina Riley desde o
nascimento até a adolescência, mas sob a óptica de suas emoções (personificadas
pela Alegria, Medo, Nojinho, Raiva e uma equivocadamente gordinha, baixinha e
de óculos Tristeza - maior ponto negativo do filme), memórias e pontes afetivas
com a família e as primeiras dificuldades da vida (no caso, uma mudança para
uma cidade nova), num belo filme, inteligente e divertido para todas as idades
- Oscar de Melhor
Animação e quarto
lugar na nossa Lista!
Mas foi mesmo uma continuação da franquia de ficção científica dos
anos 80- o quarto filme, para ser mais exato -, e uma das mais bem consistentes do Cinema, Mad Max - A Estrada da Fúria,
que mais me chamou a atenção, conseguindo nossa terceira posição e o impressionante feito de ser indicado
em 10 prêmios (vencedor em 6 categorias), incluindo as de Melhores Filme e Diretor pela absoluta competência de um
"velhinho" ainda cheio de gás (o versátil George Miller de trabalhos
tão díspares como Babe e Happy Feet, para quem dediquei
minha torcida na categoria) e de um poderoso trabalho visual e consistente
sobre temas bastante atuais (empoderamento feminino, meio ambiente, cegueira
ideológico-religiosa), numa louca perseguição de carros que praticamente toma o
tenso filme inteiro! Sim, o sempre bom Tom Hardy (o Bane de Cavaleiro das Trevas Ressurge,
vilão aparentemente "homenageado" aqui na sequência da focinheira)
decepciona como Max, o alucinado personagem incorporado por Mel Gibson das três
versões anteriores, mas é facilmente "substituído" no protagonismo
por uma vigorosa Imperatriz Furiosa (Charlize Theron, lembrando as heroínas das HQs de Frank Miller) e mostra muito vigor para
novas e igualmente ótimas sequências! Um pouquinho acima e igualmente
impressionante, o ótimo épico realista-naturalista de sobrevivência e
vingança O Regresso - merecidamente consagrado com os
prêmios de Melhor Direção para Alejandro Iñárritu (pelo
segundo ano consecutivo: o diretor já havia ganho em 2015 por Birdman), Melhor Fotografia para Emmanuel Lubezki (pelo terceiro ano consecutivo: antes, por Gravidade e Birdman,
todos em parceria com Iñárritu) e o tão aguardado Melhor Ator para o sempre
ótimo Leonardo diCaprio (indicado antes, mas sem jamais ter
levado, em quatro oportunidades) fica com o segundo
lugar da Lista dos Morcegos entre todos os indicados!
E, enquanto não vejo outros filmes indicados que prometem bastante, como Brooklyn,
Carol ou O Quarto de Jack, a nossa Lista enfim se encerra e, na modesta opinião dos
Morcegos, o melhor filme em
disputa foi... um brasileiro: O
Menino e O Mundo é de uma Poesia tão cativante, de uma trilha
sonora tão brilhante (e que praticamente narra o filme, sem diálogos
inteligíveis nos raros momentos em que alguns personagens falam), de uma
fotografia tão espetacular (o filme sobrepõe uma profusão de cores por sobre
fundo branco, o que traz, ao mesmo tempo, leveza e profundidade) e de um
roteiro tão incrível e digerível para todas as idades (curiosamente, não
havia roteiro prévio às filmagens!) - apesar de a diferente narrativa sem
diálogos e de algumas metáforas sobre temas como opressão capitalista,
problemas sociais das grandes cidades e regimes militaristas poderem causar estranheza
para as crianças mais impacientes e viciadas no universo Disney... A animação de Alê Abreu é tão rica de simbolismos cinematográficos e tão cheia de nuances interpretativas (atenção para o final e qual seria o destino do menino do título...), tão criativa que se equipara às melhores animações de arte europeias (como o divertido francês As Bicicletas de Belleville), tão forte que suplanta fronteiras com seus temas atemporais e universais... O filme é tão bom, tão bonito, tão nosso, tão brasileiro e tão mundial... Que, sim, ele não só mereceria uma láurea como Melhor Animação, como também deveria ter sido eleito o melhor filme do ano (no caso, ele é de 2014): é de O Menino e O Mundo o nosso primeiro lugar! O nosso Cinema segue excelente, mesmo com tantas dificuldades, e leva tantos prêmios no mundo inteiro, que, honestamente, não precisamos de Oscar!
O subgênero da Animação mostrou que pode surpreender e, por cima dos preconceitos comuns - que costumam tachá-lo de "coisas para crianças", gerou dois dos melhores filmes dentre os indicados ao Oscar!