sábado, 30 de abril de 2016

Morcegos em Guerra:
12 anos de lutas entre
o Lado Negro da supernerdice
e a Força das Artes em Geral...

  

Lucas e Moore: reinventores da Fantasia e geniais tradutores do mundo infantil para as fábulas adultas...

O mês era maio e o ano, 1977: enquanto eu, em meus primeiros dias de vida, ainda esperneava no choro sem saber direito onde estava, um jovem de trinta e poucos anos chamado George Lucas sabia muito bem o que fazia e estonteava o mundo com sua saga espacial Guerra nas Estrelas (o mesmo primeiro filme da saga, que depois seria rebatizado de "Episódio IV - Uma Nova Esperança"), diferente mistura de antigos seriados de aventura e ficção científica dos anos 40 com inovadores efeitos especiais que, apesar do estrondoso sucesso (tanto que ganhou 7 Oscars, perdendo em "Melhor Filme" para Woody Allen e seu Annie Hall), acabou tachado de "infantiloide" pelos críticos mais puristas, assustados com o que aquele sopro jovem de inventividade comercialesca (mais tarde apelidada de "cinema pipoca") poderia representar para o futuro da Sétima Arte - afinal, além da bilheteria recordista, ali foi inaugurado o merchandising cinematográfico, com suas inúmeras linhas de brinquedos e produtos licenciados! Havia razão na "preocupação": o ano seguinte, enquanto eu seguia alheio ao mundo em meus primeiros passinhos, lançavam Superman - O Filme e as possibilidades da Fantasia de qualidade no Cinema pareciam ilimitadas...

Salto para 1989 e, depois de toda a Magia dos lúdicos anos 80 - Caça-Fantasmas, De volta para o futuro, Robocop, Gremlins, Goonies etc. -, eu, com 12 anos, naquele especial fim de ano de "batmania" (e tome novos licenciamentos...) inaugurada, meses antes, com a estreia de Batman, de Tim Burton, depois de ter comprado um sem número de bugigangas com o símbolo do morcego e em meio ao cheiro de superfaxina e dos deliciosos aromas vindos da cozinha do apartamento sendo preparado para o Natal, aguardava o meu pai voltar do supermercado com o meu especial pedido da banca: o relançamento de A Piada Mortal (1988) me inaugurava num novo estilo de ver os Quadrinhos, até então acostumado que era somente às revistinhas do Zé Carioca, do Peninha e da Turma da Mônica! Eu até já havia me empolgado, aos 7 anos, como todos os amigos da época, com a exibição de Superman na TV, bem como reparado, anos antes, nas coleções do Homem-Aranha de meu irmão mais velho, mas seria mesmo com aquela Graphic Novel (nome chique, "romance gráfico": um verniz mais adulto para as HQs) de Alan Moore e Bryan Boland, relançada na esteira do filme-evento do Homem Morcego, que eu faria o meu début no universo dos super-heróis...

Abril de 2004 e, respirando um pouquinho melhor depois de alguns exíguos prazos cumpridos no primeiro escritório em que trabalhava profissionalmente como um pacato advogado, mal sabia eu que, em meio a algumas conversas pelo MSN e pelo meu dileto StarTac com a amiga de infância Adriana, viria a me tornar uma espécie de "super-herói" no mundo das letras virtuais ao aceitar sua ideia de criar um blog e me aventurar a lançar textos novos e antigos no hoje extinto sítio (alguns de nós ainda resistíamos aos estrangeirismos da internet) de hospedagem Weblogger. Como a primeira postagem, basicamente, conteria uma breve apresentação pessoal e o meu primeiro poema, Morcegos, de 1991, nada mais justo do que batizar o novo espaço com o mesmo nome - e nada mais legal do que aquela imagem descolada na própria web pela então superblogueira Drica4Ever (codinome virtual da minha amiga) para o cabeçalho que usaria a partir de então: uma espécie de "batsinal" toscamente desenhado por sobre uma "lua" parecida com uma bola de isopor (seria um "efeito digital" da época?)! "Cuidado para não ficares perdendo tempo com essa história de blogue e cuida do que é importante!", advertia minha preocupada mãezinha, sem saber valorizar o meu criativo lado na escrita que começava a se consolidar...

Comecinho de 2015 e, sem magia em volta, eu ainda seguia bestificado com a estultice polarizadora entre os brasileiros e suas "discussões políticas" - que, dentre outras coisas, gerava absurdos queremismos em prol da volta da Ditadura Militar (!), a ideia de lançar "bolsomitos" criminosos à Presidência (!!) e um pedido de impeachment sem o devido lastro legal-comprobatório (!!!)... Mas, como há tempos os Morcegos já se haviam cercado de autonomia e passado a não mais publicar ensaios políticos no blogue, restava-me alimentar a esperança em dias melhores com a minha herdeira padawan Isabela, já tendo boas noções de empoderamento feminino com suas princesas poderosas, e consciente, no suficiente para os seus quase seis aninhos, da atualmente triste e negra situação no Senado galáctico (opa, creio que algo se misturou pelo caminho: sempre bom atenuar-se a dura realidade com a Fantasia!) - ao ponto de já saber de cor e salteado a maioria dos personagens de toda a saga Star Wars (agora, tudo tem de ser em Inglês!): Obi-Wan, Princesa Leia, Luke Skywalker, Han Solo, Chewbacca e até "Kailouen", aquele que "é neto do Dárti Vader, Papai"... Mas nem tanto graças aos filmes (dos quais ela só viu os dois primeiros, e do jeitinho dela), mas, sim, aos divertidos videogames dos Angry Birds, que ela adora (e eu também!), no universo espacial de Lucas, e, atualmente, da Disney - que também detém a Marvel Studios, dona dos heróis que ela já conhece dos Quadrinhos na minha biblioteca, como Homem de Ferro, Hulk, Capitão América... Não tem jeito: 'tá tudo misturado!

E chegamos ao atual abril, depois de tanto tempo mergulhados e imiscuídos nas Artes e à procura de salvadores que os Morcegos, plenamente dialéticos e passionalmente envolvidos desde o seu nascedouro com a melhor Fantasia do bem contra o mal entre roupas espalhafatosas e combates cheios de poder, este humilde espaço virtual chega ao seu décimo segundo aniversário alternando, sem crise, entre as mais de 450 postagens só aqui no Blogspot (desde 2005), o melhor da Música (Chico, Tom, Caetano, Gil, Sinatra, Gilberto, Gonçalves, Winehouse, Williams, Morricone, Rota, Mozart...), da Literatura (entre os gênios da Poesia, da Crônica, do Conto e alguns rabiscos pessoais meus nessas áreas), da Televisão, das Artes Plásticas e do Teatro (o que pude acompanhar, é claro, nestas áridas terras ludovicenses...) juntamente ao amado Cinema em sua totalidade e sem preconceitos (Scorcese, Ford, Fellini, Bergman, Spielberg, Tarantino, Kurossawa, entre outros, já passaram por aqui) e à Nona Arte (desde as clássicas tiras, passando pelos super-heróis de ontem e de hoje até chegar às tiras mais maliciosas ou mesmo fundidas de outros meios, como o Jornalismo e a História)! E porque são livres de seu "dono" e contumazes consumidores da criatividade, também lhes desejo felicidades: parabéns, Morcegos!

E este abril foi ainda mais especial graças à incrível ocasião em que alguns dos maiores super-heróis das HQs foram levados à telona com pouquíssimo tempo entre uma estreia e outra (Provocação? Temas iguais? Who cares?!): no finalzinho de março, Batman e Super-Homem foram às vias de fato, separados pela Mulher Maravilha, no muito bom Batman vs. Superman - A Origem da Justiça (que eu só vi no meio de abril!), e, pouco mais de um mês depois, o igualmente aguardado Capitão América 3: Guerra Civil, raríssima ocasião em que a "nerd por osmose" e minha esposa de plantão, Jandira, e eu, fomos por duas vezes ao cinema em tão pouco tempo (coincidentemente, a última vez fora no final do ano passado, para ver Star Wars - Episódio VII - O Despertar da Força)! Parece até que a Marvel e a DC, as duas maiores editoras mundiais do gênero, juntaram-se para homenagear o nosso querido bloguinho!

Enquanto a derivação do polêmico arco A Morte do Superman e da famosa Graphic Novel Cavaleiro das Trevas resultou numa grata surpresa com Batman vs Superman - como já analisado por aqui -, eis que a tão ansiada adaptação do recente arco especial de histórias de Mark Millar e Steve McNiven, "Guerra Civil", ficou um tanto quanto aquém das expectativas marvetes... Longe de ser um filme ruim, pelo contrário: combinando o velho esquema de emendar as tramas do Universo Marvel no Cinema - no caso, toda a primeira meia hora do novo longa é marcada por incontáveis menções a personagens e situações dos anteriores Vingadores - A Era de Ultron (este, sim, bem fraco...) e Capitão América 2: O Soldado Invernal (atualmente o melhor personagem e a melhor trilogia do gênero da telona) - e o aprofundamento de situações vividas pelos (inúmeros) personagens até a situação de confronto entre todos, Capitão América 3 constrói uma densa narrativa e equilibra bem as ótimas sequências de ação com os dilemas e as culpas dos heróis, nem sempre bem sucedidos em suas últimas batalhas épicas pela paz no planeta - tema similar ao de abertura do filme da concorrente DC/Warner...

Entretanto, assim como ocorreu com Batman e Super-Homem, o mais recente produto Marvel parece forçar a barra com algumas "invencionices": se aqui um incomodamente modificado Zemo (nada a ver com o célebre vilão nazista Barão Zemo, do Capitão na Segunda Guerra) é menos onipotente que o Lex Luthor da concorrente (mas nem por isso mais crível: uma vingança pessoal gera um supervilão daqueles?!), as muitas mudanças feitas sobre os personagens e as tramas das HQs pesaram ao querer dar tudo como muito redondo e fechado para "fazer sentido" no filme - o que, pelo contrário, acabou prejudicando a metade final ("Você matou meus pais"... Não, sério?)! E a tão aguardada "guerra" do título, diferentemente das longas batalhas de todos contra todos nas revistinhas, acaba se resumindo a uma curta sequência sem grande violência - e com bem menos heróis envolvidos! Tudo bem, tivemos deliciosos alívios cômicos com as presenças, no combate, do Homem-Formiga (o supercarismático Paul Rudd) e a primeira vez do Homem-Aranha na Disney/Marvel (de longe, a melhor versão do herói na telona, graças ao gigantesco talento do sempre ótimo Tom Holland!), mas parece que até isso soa equivocado durante o ansiado confronto: piadinhas demais num momento dramático de colegas e amigos se enfrentando!

Nada que as (muitas) referências diretas às histórias recentes da Marvel Ultimate - como a entrega do escudo pelo Capitão, como uma forma de se tornar independente de qualquer ligação com o Governo (que quer monitorar as ações heroicas depois dos eventos em Sokovia) ou a cena final pós-créditos (onde passado e presente do Cabeça de Teia se misturam e emocionam...) são excelentes! Afora a seriedade geral com que já vinham sendo conduzidos alguns desses grandes heróis de tão longa data... E, cá entre nós, numa época em que a grande maioria dos lançamentos do Cinemão norte-americano há muito já abandonaram o bom senso e a qualidade em nome apenas de fortunas em vendas antecipadas de bilheteria ou de intermináveis linhas de brinquedos e produtos licenciados, acompanhar esses últimos três lançamentos, de Star Wars VII até aqui, que remontam à minha infância, e ver o carinho com que tudo foi feito, estimula a criatividade de espaços como este, que acreditam num admirável mundo pop sempre renovado no coração do culto nerd mais saudosista...

Este novo universo, no entanto, não agrada a todos: por exemplo, o Mago Alan Moore, o mesmo genial roteirista de A Piada Mortal do início desta crônica-ensaio e de tantas outras obras-primas dos Quadrinhos - como a épica V de Vingança, a reformulação filosófica de Marvelman com Miracle Man (aguarde as próximas postagens especiais a respeito) e da definitiva obra realista e pessimista sobre o universo do collant colorido e mascarado em Watchmen (cuja famosa capa da sua 12 edição é a homenageada dos 12 anos dos Morcegos) -, recentemente afirmou, em mais uma de suas polêmicas declarações contra tudo e contra todos (até mesmo os seus fãs mais ardorosos e o seu próprio passado como renovador cultural que foi, elevando a Nona Arte dos Quadrinhos a um status adulto e elucubrador), que considerava os super-heróis "abomináveis", uma "catástrofe cultural", diante do fato de que teriam sido criados para crianças de 9 a 13 anos de idade e, hoje, depois da "invenção do termo Graphic Novel", "homens com 30, 40, 50 e até 60 anos" continuam "com seu amor pelo Lanterna Verde e Homem-Aranha sem querer parecer emocionalmente anormal"! Quanto exagero (e ofensa...) - afinal, qual arte que não significa um escapismo da realidade, numa releitura a mais ou a menos aprofundada do que se vive a depender da necessidade do momento de cada indivíduo?! E o mito dos super-heróis, a despeito dos modismos atuais (que, realmente, muitas vezes os tornam rasos demais, mero material promocional para licenciamentos), sempre foram e serão fortes elementos da Cultura Pop mundial - com todas as nuances boas e ruins que isso venha a significar...

Particularmente, vejo tudo com bons olhos, independente do desvario de se produzirem tantos e tão cansativos títulos, no Cinema ou nos Quadrinhos, ultimamente: basta um pouco mais de equilíbrio - o somatório geral, porém, é muito bom! Porque vim daquela alvorada das grandes ideias pop no mundo das artes, quando a Fantasia e a Magia arremessaram contra as fronteiras etárias e se mostraram ao mundo em suas complexidades fascinantes, podendo ser apreciadas por qualquer um em meio a outros tipos de profundidades artísticas... Há quem não goste, mas fica quase impossível simplesmente chamar-se de "besteira" ou "tolice infantil" diante de tanto amadurecimento de artistas e personagens ao longo das últimas quatro décadas - se J. R. R. Tolkien já era consagrado com a sua Saga do Anel na década de 50, foi mesmo com as releituras de seus livros cheios de metáforas sobre a Guerra e as Religiões, em plenos anos 90 e 2000, por seus admiradores daquela época (como o próprio Lucas e Peter Jackson, diretor da trilogia O Senhor dos Anéis nos cinemas), que ele se tornou um ícone cultural, abrindo espaço para discípulos ilustres, verdadeiras celebridades atualmente, como George R. R. Martin e sua vasta obra multimidiática Games of Thrones!

E o que há de ruim num escapismo saudosista? Adoro tanto os clássicos relançamentos dos anos 40 e 60, onde o bem e o mal eram bem delineados e as historinhas, bem mais ingênuas, como dos modernos conflitos existencialistas e das nuances do "ninguém é completamente bom" ao ponto de sair incólume, mesmo a defender o mundo das HQs dos super-seres, tanto fazendo se da DC ou da Marvel... E, até hoje, vez por outra me pego voando, nalgum sonho em meio às tantas dificuldades da dura realidade de homem de quase 40! Agora, por exemplo: como seria possível publicar este texto enorme (sim, a maioria não o lerá em sua completude, mas é aniversário dos Morcegos, puxa vida!), concluído na virada do dia do trabalhador para o dia 2 de maio, sem os meus superpoderes de voar mais rápido que a luz contra a rotação da Terra e poder voltar o tempo a fim de postar ainda no aniversário do dia 30 de abril?! Como? Simplesmente alterando a data da publicação no sistema do Blogspot?! Mas que sujeito sem imaginação você é, meu caro... Recomendo que jamais deixe de acompanhar os Morcegos, seja qual for a sua idade, para o alto e avante!



Se você contar direitinho, em homenagem aos 12 anos, são 12 parágrafos bem fartos nesta postagem especial...

domingo, 17 de abril de 2016

Batman vs. Superman:
A Origem de Um Novo Universo Cinematográfico

Batman vs. Superman - A Origem da Justiça **½

De início, somos apresentados, em bom e cansativo 3D, às já velhas (e igualmente cansativas) tomadas em câmera lenta do diretor Zack Snyder - que, mesmo não tendo sido o criador do estilo, já tanto dele usou e abusou (especialmente em 300 ou Watchmen, ambas decepcionantes adaptações de famosas HQs), que o recurso virou sua marca registrada! Trata-se da velha sequência do menino Bruce Wayne, que, desesperado no funeral após testemunhar a morte dos pais assassinados, cai numa área inóspita da Mansão Wayne e descobre uma caverna cheia de morcegos por baixo da propriedade... Curiosamente, a sequência de abertura consegue ser tocante e Batman Vs. Superman - A Origem da Justiça até começa bem...

Em seguida, somos arremetidos a um Bruce Wayne bem mais envelhecido do que suas costumeiras versões cinematográficas: o desespero, agora, é contra o tempo, a fim de evacuar um prédio financeiro das Wayne Enterprises em Metrópolis durante a devastadora sequência de luta (que encerra o polêmico Homem de Aço) entre o Super-Homem (quem quiser, que o chame de Superman - not me!) e o General Zod, mas só consegue salvar uma garotinha em meio aos destroços e olhar, com muita raiva, para os céus, como que a odiar o surgimento daquele Novo-Deus capaz de tanta destruição... Mais curiosamente ainda é como aquela longa sequência cataclísmica do final do primeiro filme do Super (também dirigido pelo exagerado Snyder), para a qual tantos, como eu, torceram o nariz, agora, vista por outro ângulo, o das pessoas normais, impotentes diante daquela espécie de 11 de setembro deles (só que com alienígenas superpoderosos no lugar de terroristas), funciona, e muito bem!

Mas, para além do acachapante e perfeito início, o mais surpreendente foi ver o tão criticado Ben Affleck, tão cercado de expectativas negativas pelos fãs do Morcego por ser mais conhecido por papéis canastrões em dramas clichês ou comédias românticas e de besteirol dos anos 90 - e por sua nada memorável passagem pelo péssimo Demolidor, em que viveu o famoso super-herói cego da "outra editora" -, simplesmente já anunciando, naqueles poucos instantes, que entregaria o melhor Bruce Wayne do Cinema, situação que só se confirmaria ao longo dos mais de 150 minutos de projeção! Sim, o melhor Bruce, porque o seu tão aguardado Batman, neste longa mostrado como uma versão atenuada do velho, ultraviolento e inescrupuloso herói da graphic novel Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, assustou muita gente... Mas, frise-se, não por culpa do maduro ator (compenetrado e tenso na medida e com a aparência bem similar ao Bruce espadaúdo e de queixo quadrado da clássica animação Batman - A Série Animada), mas, sim, pela abordagem escolhida para o herói - capaz de dar de ombros com as mortes pelo seu caminho e até marcar os criminosos com um morcego em ferro quente! Deu até saudade da já durona versão do Christian Bale...

Sim, há algo de tenebroso surgindo entre Gotham e Metrópolis e toda a atmosfera do filme possui um tom seco, violento e bem lúgubre... "Tirem as crianças da sala": foi-se o tempo em que podíamos chamar os pequenos para vermos, todos juntos, numa Sessão da Tarde inofensiva, um super-herói com sorriso carismático para a câmera, a salvar um gatinho de cima de uma árvore ou pegando um helicóptero em queda livre com uma só mão (ambas famosas sequências de Superman - O Filme, homenageadas com interessantes citações neste longa)! O mundo mudou, ficou muito mais cínico, e alguém que possa voar, soltar raios de calor pelos olhos e destruir uma cidade inteira, ainda que lutando a favor da humanidade, pode ser visto com muita desconfiança - além de ter que dar explicações aos poderes constituídos (em especial, a políticos liderados por uma senadora muito bem interpretada pela veterana Holly Hunter, de O Piano) e refletir sobre o seu papel em meio a tantas manipulações de notícias e incitações a ódio em tempos de rápidas e viscerais redes sociais na internet!

São tempos sombrios... Mas tal excesso de sombras acaba comprometendo as boas ideias deste longa! E nem é preciso lembrar que o clima opressor está garantido pela fotografia costumeiramente escura e saturada em tom sépia (em que quase não se vêem as cores reais, com tudo tendendo para o bronze) de Larry Fong, habitual parceiro de estilizações do diretor. Só que, outra surpresa: o estilismo serve muito bem a esta dura história de construção de rivalidades, bem típicas nas últimas décadas de encontros e desencontros ruidosos entre os dois medalhões da DC nas HQs, e dos conflitos que cada alter-ego vive em suas privacidades por baixo das máscaras e dos collants (finalmente livraram o Homem-Morcego das amarras daquelas imobilizadoras roupas emborrachadas pretas!)...

"Ah, mas com tantos personagens, tramas e subtramas, tudo deverá ser bem raso"... Até que não: a história principal vai-se aprofundando paralelamente ao devido tempo necessário para que todos os personagens cumpram com seus papéis: Lois Lane com sua "vida conjugal" ao lado de Clark; Perry White com suas manchetes ora críticas, ora sensacionalistas; Martha Kent, embora em pequena participação, decisiva na trama; o mordomo Alfred (incorporado à perfeição por Jeremy Irons) e seu papel de parceiro, diretamente da caverna, no combate ao crime com as altas tecnologias do "Mestre Wayne"; e Diana Prince - sim, ela também é coadjuvante -, surgindo de relance aqui e ali, ora para desfilar sua intrigante beleza, ora para criar expectativas que quase nunca se cumprem...

E aí começa um dos primeiros defeitos do roteiro: por mais que se saiba que a trama girará em torno do confrontamento entre os "Melhores do Mundo", além de Batman e Super-Homem - e, mais especificamente, Clark Kent e Bruce Wayne -, Diana é colocada, insistentemente, apenas como um incômodo teaser, como que somente provocar e a marcar presença para as continuações - "Agora ela vai reagir"... "Ela vai explicar algo"... "Acho que é agora que ela vai se revelar uma super-heroína"... que bem poderia ter mais destaque e background além de simplesmente surgir devidamente caracterizada como Mulher Maravilha no combate final (o que não é nenhum spoiller, uma vez que fartamente evidenciado nos vários traillers)...

E, falando em teaser, isto é o que não falta no roteiro de Chris Terrio e David Goyer (este último um velho conhecido dos fãs da Trilogia do Batman de Christopher Nolan): heróis como Aquaman (Jason Momoa?!), Cyborg (assustador vídeo de "origem" revelado!) e Flash (vivido por um ator desconhecido, de traços orientais...?) dão as caras rapidamente, por segundos, de maneira a revelar que um filme da Liga da Justiça está a caminho. Em alguns pontos do novo longa, rápidos inserts televisivos (quando noticiam fatos com pequenos saltos de informação sobre o que estamos vendo: outra influência herdada de Frank Miller) e algumas referências para os ávidos leitores de Quadrinhos, mesmo que sem nenhuma conexão com o restante da trama (como nas excitantes cenas onde se vê o gigantesco ômega de Darkside ou o aviso desesperado do velocista escarlate, tal qual em Crise nas Infinitas Terras), em nada comprometem a narrativa, tampouco deixam a sensação de "filme-pipoca" sem profundidade!

O que desacelera mesmo a empolgação é ver que, após estabelecidos os personagens principais (o Batman de Affleck, o Super-Homem de Cavill e o Lex Luthor de Jesse Eisenberg, mais para Coringa alucinado do que para um jovem Lex Luthor Jr.), os coadjuvantes e a trama principal - que, frise-se, resulta num belo e bem realizado embate entre "A Noite" e "O Dia", com excelente direção de ação e efeitos por sobre inúmeras citações às HQs (como a já clássica armadura do Homem-Morcego e a reação cadavérica diante da explosão nuclear de um míssil, ambas, novamente, de Cavaleiro das Trevas), a trama se rende à tentação dos mais-que-batidos clichês do gênero... Não há como não torcer a boca para tantos vacilos que, atropeladamente, marcam a projeção antes mesmo do tão ansiado embate do título e já nos fazem calcular exatamente o que vai acontecer no restante do longa: meio que contamos os minutos para ver o que ainda cabe e a até então excelente construção para o clímax, com a luta do século no Cinema, acaba eclipsada!

"'Tá tudo muito bom, tudo muito bem..." E eis que, voilá: o vilão Luthor se revela um "oráculo" de interminável criatividade em seus planos - quase tão onipresente como o Coringa de Heath Ledger, de Batman - O Cavaleiro das Trevas -, e consegue prever antecipadamente todos os passos de cada personagem da trama, num inverossímil painel de artimanhas; o herói, cheio de poderes sobre-humanos, peregrina pelo mundo como um mero mortal, a buscar sua humanidade (lembrando muito o enredo de Superman II, com Clark voltando ao Polo Norte sem seus poderes, e do próprio Homem de Aço), encontra um fantasma inspirador (justificativa para uma breve aparição de Kevin Costner como Jonathan Kent, numa cena meio forçada, meio tocante...) e, enquanto fica na dúvida se volta ou não, some da trama; o vilão sabe de coisas que não poderia dominar (tecnologia kryptoniana... alguém?); de repente e "não mais que de repente", o superpoderoso é requisitado e, do nada, volta à ativa como se nada tivesse acontecido; o vilão "cria" vida (baseado num antigo vilão...) e surge um supervilão nababesco como desculpa para uma forçada reunião dos heróis; e o final será marcado ou por uma tragédia ou por uma acelerada conclusão - e, infelizmente, ambos ocorrem no encerramento de tudo...

Bom, creio não poder dizer nada além do que os diversos traillers de lançamento já anunciavam: sim, o supervilão derradeiro é mesmo o Apocalipse, do arco de histórias A Morte do Superman, da década de 1990 (só que com algumas diferenças bem incômodas...), e, sim, o final, em meio às aceleradas conduções conclusivas numa história que prometia bem mais, termina sendo gratuitamente estranho e picotado (ainda mais se considerarmos as mais-do-que anunciadas sequências que virão)! Pois é: a mão pesada do diretor Snyder, que poderia redimir-se de uma vez por todas neste Batman vs. Superman e se consagrar num feito histórico como uma das melhores adaptações modernas de HQs para o Cinema, faz-se sentir da metade para o final e compromete, no cômputo geral, o que poderia resultar num excelente feito - maior mesmo que Os Vingadores, pequeno clássico simplista, porém extremamente bem conduzido pelo quadrinhista e diretor Joss Whedon para a rival Marvel! A propósito: coincidentemente (ou não...), os estúdios da Casa das Ideias vêm com tudo em mais um filme de embates memoráveis de heróis contra heróis com Capitão América: Guerra Civil, neste mês particularmente especial - além de grandes adaptações cinematográficas dos personagens mais amados pelos nerds de todo o universo, os Morcegos completam 12 anos na blogosfera!

Apesar dos senões, há em Batman vs. Superman, assim como em todas as adaptações cinematográficas da Warner/ DC um estilo diferenciado em relação às produções da Disney/ Marvel, meio por "culpa" do sucesso da "Escola Nolan" de realismo fantástico visto na Trilogia Batman (encerrada com o razoável O Cavaleiro das Trevas Ressurge), meio por culpa do "tempo perdido" em relação ao Universo Marvel já construído no Cinema: Super-Homem, Batman, Mulher Maravilha (cuja aventura solo está prometida para 2017) e o grande panteão dos heróis que formarão a Liga - alguns já fazendo sucesso na TV, como o seriado Flash - parecem ter mesmo que correr a fim de fazer frente à já avançada "linha de produção" da outra editora/produtora... De qualquer forma, este "padrão diferenciado em realismo" me soa mais adequado aos dias de hoje e menos gratuito e mal ajambrado do que alguns filmes da concorrente (como o fraquíssimo Vingadores e A Era de Ultron) - que parece só ter acertado completamente com os títulos do Capitão América (não por acaso, Guerra Civil é dessa linha, embalada num ritmo mais próximo dos atuais rumos do gênero ação/espionagem no Cinema, como a Trilogia Bourne)! Por isso é que, fatalmente (ops) se pode afirmar que, "entre mortos e feridos, salvaram-se todos"... Silêncio, Morcegos: olha os spoillers! Já bastam as guerras políticas diárias da internet e a polarização DC vs. Marvel...

 

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