domingo, 29 de abril de 2018

14 Anos de Magia...

Dirigido por Steven Spielberg, este foi o quinto (e melhor) episódio da primeira temporada da inesquecível Amazing Stories - Histórias Maravilhosas.

Já contei, por inúmeras vezes, como em 1989 minha vida passou por um divisor de águas chamado videocassete... E, naquele mesmo ano, com as inúmeras idas às hoje extintas videolocadoras, conheci a série Amazing Stories - Histórias Maravilhosas (NBC, 1985/1986), deliciosa homenagem oitentista do então Midas de Hollywood Steven Spielberg (produtor/diretor) à clássica série dos anos 60, Twilight Zone - Além da Imaginação, e também no formato de antologia, com episódios independentes. Infelizmente, oscilando entre geniais episódios cheios da melhor Magia dos anos 80 (como na pequena obra-prima A Missão, acima: um artilheiro "sortudo" e sua "velha imaginação" à beira da morte durante a Segunda Guerra) e tramas bem fraquinhas, aquele pequeno marco televisivo não durou muito e acabou após duas temporadas - cujos 9 volumes em VHS devorei a todos (uma vez que só seriam exibidas na televisão aberta brasileira alguns anos depois)!

A Roleta Da Morte
Queria na minha estante...
E foi também em 89 que descobri, numa empoeirada estante da biblioteca do pai de um antigo contemporâneo da escola, o incrível livro Alfred Hitchcock apresenta: A Roleta da Morte (Ed. Record, 1978), espécie de extensão, na Literatura, do sucesso da antologia televisiva de mesmo nome, em que o Mestre do Suspense apresentava tramas dramáticas e assustadoras, selecionadas, pelo próprio diretor, entre autores desconhecidos do grande público. Foi nesse livro que um conto em particular me marcaria profundamente, tanto na memória afetiva de uma bem construída narrativa, como também no meu estilo de escrever, ali começando a aprender a importância da arte de encerrar uma história com um grande final: um fotógrafo, com o estranho dom de capturar os momentos mais dolorosos de pessoas em situações de desespero, depara-se entre salvar a vida da mulher grávida caída no fosso do metrô e conseguir mais uma macabra e derradeira fotografia... De grandes finais, sem dúvida, o velho Hitch de Um Corpo Que Cai, Janela Indiscreta e O Homem Que Sabia Demais entendia muito bem!

Imagem relacionada
O maior super de todos...
Claro que ela se faz muito mais presente no Cinema ou na Televisão, naqueles momentos em que realmente se acredita que um homem possa voar... Mas, quando falo em Magia, não me refiro somente àqueles filmes ou livros que tratem de universos epicamente fabulosos, como no clássico recente Game of Thrones (que só agora começo a desvendar), tampouco a qualquer obra de Fantasia ou Ficção Científica - fosse assim e o malfadado já esgotado subgênero dos "filmes de super-heróis" ainda hoje agradaria e emocionaria tal como se deu com o impacto causado por Superman - O Filme, em 1978. Na verdade, falo daquela narrativa com encantamento e Poesia, capaz de tornar até um duro filme Policial (vide o cruel, porém belíssimo O Poderoso Chefão) ou um intrincado livro de Mistério algo extasiante, emocionante, envolvente... E quando, nessa obra (cinematográfica, literária...), se dá a sorte descomunal de fazer caber um grande fim, aquele mágico torpor segue a nos tremer a pele, esquentar o peito, intrigar a fronte, arrepiar a espinha e mexer com o cérebro por dias, meses, décadas a fio...

Resultado de imagem para sandman gaiman capas
Clássico de Neil Gaiman:
pesadelos lendo a DC Comics
pelo selo Vertigo...
E olhando em retrospecto, em particular, toda essa época entre os lisérgicos anos 60 de Além da Imaginação e o final dos multicoloridos e falsamente inocentes anos 80 de Histórias Maravilhosas, o período foi bem pródigo em sensíveis montantes de Magia, assim como em saber como bem se acabar um filme, um livro, uma canção - e nem falo de um óbvio Disney e seu incrível Mary Poppins! Tire por Kubrick em 2001 - Uma Odisseia no Espaço ou Antonioni em Blow-Up - Depois daquele beijo; Fellini em 8 ¹/², A Doce Vida e Amarcord; ou o nosso Cinema Novo da amarga Poesia de Gláuber ou Nelson; passando por Lucas com suas épicas Guerras nas EstrelasBraga definindo cores para o até então cinza gênero da Crônica; ou ainda a Música de Caetano, Torquato, Mautner ou Belquior com seus poemas de MPB desconstruída (ou em reconstrução) e músicas de louca escapada; Leminski com seu deboche malandro e seus golpes geniais de releitura poética de nós mesmos; King inventando, em seus livros, o Terror de deslumbramento e fascinação entre crianças e adultos; Moore e Gaiman redefinindo os Quadrinhos e chamando de volta os adultos para a festa; e chegando, inevitavelmente (para o bem e para o mal), às mágicas mãos de Spielberg por trás de praticamente tudo de épica e magicamente romantizado que se fez entre os finais dos anos 70 e 80, de extraterrestres com cinco notas de comunicação em Contatos Imediatos... a aventureiros à moda antiga em Indiana Jones e A Última Cruzada - que período mágico para as Artes em geral!

Resultado de imagem para sexto sentido
Suspense do Além...
Mas... E depois? Infelizmente, pouca coisa... Afinal, os anos 90 produziram quase nada além de reciclagem cultural - se não fossem adoráveis salvações isoladas, como Ghost - Do outro lado da vida, Dick TracyDança com LobosEdward Mãos de Tesoura, Drácula de Bram StokerO Rei LeãoEd Wood, O Exterminador do Futuro II - O Julgamento FinalFeitiço do Tempo, À Beira da LoucuraEntrevista com O VampiroA Roda da FortunaForrest Gump - O Contador de HistóriasA Fraternidade é Vermelha, Toy StoryDesconstruindo Harry, O Enigma do HorizonteContato, O Show de TrumanAlém da Linha Vermelha, Amor Além da VidaCidade das SombrasO Grande LebowskiO Sexto SentidoÀ Espera de Um MilagreNós que aqui estamos por vós esperamosBeleza Americana, História Real ou Matrix... Teríamos uma década perdida! Já sentia saudades da minha infância oitentista...

Resultado de imagem para amélie poulain
Amor que se reinventa de forma lúdica...
E parece que a seca só aumentaria com o passar do tempo: o mais perto de "mágico" que as duas décadas iniciais dos anos 2000 viram foi a explosão de cansativos universos de super-heróis na tela grande e um gigantesco número de refilmagens ou reboots de velhas boas ideias! Logicamente, sempre há de se considerarem honrosas, ainda que cada vez mais esparsas e raras, exceções (e obviamente que magias caça-níqueis de bruxinhos sem sal e "cinema-novela" de não-sei-quantas partes não contam!)... E assim, filmes como Corpo Fechado, O Tigre e O Dragão, O Auto da Compadecida, Embriagado de AmorO Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel, Moulin Rouge - Amor em Vermelho, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, A Viagem de ChihiroDogville, Peixe Grande, Hulk (de Ang Lee), As Bicicletas de BellevilleBrilho eterno de uma mente sem lembranças, Antes do Pôr do Sol e Cisne Negro, na primeira década, e Meia-Noite em ParisO Artista, A Invenção de Hugo CabretAmor, Gravidade, O Perfume, Menino e O Mundo e A Forma da Água nestes últimos 7 anos, apesar da roupagem nova de edições ousadas e de algumas cores mais cínicas, souberam como dignificar a tradição da velha e doce Magia! Só que num triste número bem menor, em quase duas décadas, em relação à já fria década de 90...

Imagem relacionada
É assim que a tela da smartv da sala vive atualmente:
escolhendo pelos "quadradinhos"
Inúmeros autores jamais deixaram de se valer de alguma Poesia ou Fantasia para tocar suas obras ao longo dos últimos tempos, isso sempre existiu... Mas nada digno de nota, de Magia com 'M' maiúsculo, coisa difícil num mundo tão dominado pelo imediatismo e pela arte comercializada! Curiosamente, é novamente na Televisão o novo espaço fértil para um forte movimento pelo retorno a esse jeito mágico de contar grandes histórias - especialmente agora, em tempos de multimídias como o Netflix, esse híbrido de TV e internet em que milhões de filmes e séries inteiras estão disponíveis para imediatas maratonas! Eu mesmo ando bastante ligado nesse canal: além de ter devorado, assim que assinei no final do ano passado, a segunda temporada do já clássico absoluto de Ficção-Horror Stranger Things (ainda preferindo a primeira...) e finalmente ter visto a quinta e última temporada que me faltava para fechar a trágica Poesia violenta de Breaking Bad (no que não me contive e acabei por rever as primeiras - e melhores - quatro anteriores do grande Walter White), já me familiarizei com as maravilhas do formato streaming e fechei várias séries bacanas: quase toda a heroizada Marvel, dos muito bons Demolidor e O Justiceiro aos fracos e arrastados Luke Cage e Punho de Ferro; a encantadoramente amarga e irônica fantasia cômica das duas temporadas de Desventuras em Série; e a nada mágica e somente razoável Better call Saul, 'spin-off' de Breking Bad com o divertido Saul Goodman (agora ofuscado por longas situações familiares)!

Resultado de imagem para black mirror
É a tela ou são as pessoas
que se "quebram" diante da tecnologia?
Pois é: meu namoro com aquele estilo de encantamento continua firme e, na maioria dos casos, ando preferindo as séries nessa linha mágica a renomadas, porém mais realistas tramas - como as ainda não vistas House of Cards, Narcos, The Crown ou La Casa de Papel. E, voltando-se ao início desta postagem, mais um ciclo se fecha com uma nova releitura da antiga Twilight Zone, agora a fim de adequar a velha fórmula de fantasiosos episódios independentes entre si aos hodiernos e cínicos tempos da alta tecnologia: Black Mirror, referência, no título, ao "espelho negro" que nos reflete (e aprisiona) pelas telas dos computadores, TVs e celulares a uma realidade nada boa, é uma premiada série inglesa (hoje pertencente à Netflix) com grande elenco internacional, parece querer trazer à tona esse velho universo do qual jamais nos deixamos separar - o de se surpreender com o inusitado, e, no caso, viajar pelas mágicas possibilidades "futuras" da tecnologia sem perceber direito o quão presentes (e possíveis) todas elas já são! Infelizmente, Magia e Grandes Finais não são uma constante nessa cultuada, porém seca série: de um modo geral, as premissas e painéis de fundo são sempre muito interessantes, mas ora se arrastam demais em longas-metragens (algumas histórias chegam a 90 minutos - o que compromete bastante o desenvolvimento desse formato), ora se encerram sem vontade ou sem apresentar uma conclusão satisfatória...

Melhor jeito de se ignorar alguém numa crise conjugal:
bloquei-o em seu chip e o deixe incomunicável!
De qualquer forma, o grande responsável por tudo, Charlie Brooker, desenvolveu pelo menos uma pequena obra-prima por temporada, capaz de alimentar as esperanças de que nada está perdido no doce terreno da ficção moderna... E Black Mirror, além de merecidas "menções honrosas" a três já pequenos clássicos do imaginário popular, 15 Milhões de Méritos, Hang the DJ e Manda quem pode, conta com os seguintes episódios imperdíveis: na primeira temporada, o Suspense de Ficção Científica Toda Sua História, em que um marido, obcecado com a ideia da traição da esposa, vai às últimas consequências com seu avançado chip de memória; na segunda, a deliciosa Comédia de Ficção Queda Livre mostra Bryce Dallas-Howard e seu sorriso plastificado de boneca na atualmente bastante comum obsessão louca de ser popular nas redes sociais - sendo que, no futuro, disso dependem empréstimos, contratos e até empregos; a terceira revela o melhor episódio de todos com a genial Ficção Científica Natal, em que nada é o que parece ser nesta trama cheia de reviravoltas e histórias intercaladas; e, por fim, a quarta e mais fraca temporada, com somente um grande episódio, Black Museum, em que, mais uma vez, várias histórias se intercalam dentro de uma maior, numa espécie de homenagem à própria série ao alinhavar diversas referências e personagens já explorados, numa espécie de universo unificado, tudo reunido num macabro museu de tecnologias mentais fracassadas... Apesar dos muitos defeitos, esse "Espelho Negro" (saudade de quando se traduziam os títulos originais...) merece ser vista - afinal, é a Magia se renovando!

COMMENTS On the night of November 24th, 2007 I was lucky enough to catch a lunar halo right above my house, under a full moon. Of course I w...
Foi quase assim a Lua daquele dia mágico em que escrevi
meu primeiro poema...
E pensar que tudo isso começaria, para mim, naquele hoje longínquo 1989 por causa do Cinema em minha casa... E que, três anos depois, em 1992, eu entraria nesse mundo ao "começar" a escrever: com o entusiasmo de algumas redações em versos e prosas então muito queridas na escola, minha primeira crônica-conto, Amanhã é outro dia..., escrevi na última folha do caderno do segundo ano do ensino médio, esperando a primeira namorada na imponente Biblioteca Pública Benedito Leite; e, um pouquinho antes, em 1991, concebi o poema que dá título a este humilde espaço virtual, Morcegos, após voltar de uma videolocadora, deixando fitas devidamente rebobinadas no último minuto do prazo sem multas antes de fechar, às 21 horas, olhando para o céu limpo e claro de uma mágica lua cheia envolvida por uma grande auréola - tantas e tão diversas inspirações, mas sempre prenhe de Magia e já exercitando as lições aprendidas algum tempo antes a respeito de grandes finais...

Mas foi somente após decorridos mais 15 anos, em 2004, que este blogue ganhou forma, no finalzinho de abril, mais precisamente no dia 30, ao me fazer entrar de vez na internet e na Literatura, redefinindo minha vida ao abraçar o escrever religiosamente até hoje, 14 anos depois, em que ainda ensaio Poesia pela minha Prosa de amador e amante no contínuo exercício do suspiro derradeiro de um final que nunca há de chegar... Então, que nunca se acabe, sempre se renove - com direito a inúmeros lindos finais mágicos! Obrigado por me acompanharem e me ajudarem na árdua tarefa de carrear Magia do papel para o dia-a-dia com a pena digital desse velho teclado descarregando, sobre a tela do seu PC (hoje também no seu note, tablet e I-Phone!), Cinema, Literatura, Música, Quadrinhos e Artes em Geral, diletos Morcegos... Meus parabéns!
Como tudo começou... Assim era o layout original dos falecidos tempos de Weblogger!
Aproveite o sem-número de links ao longo desta postagem especial de aniversário e boas viagens...

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Todos os Filmes (que eu vi) do Oscar 2018

Oscar de melhor trilha sonora: o criativo Alexander Desplat, oscarizado antes pela trilha do excelente O Grande Hotel Budapeste, compôs aqui o seu melhor trabalho - trilha inesquecível de um filme deliciosamente romântico em todos os aspectos: A Forma da Água.

E a minha "maldição do Oscar" continua: se nos dois anos anteriores a sofrível Sky me deixara sem poder ver a premiação ao vivo, neste ano, livre daquela péssima TV por assinatura, sequer pude acompanhar a exibição picotada da "edição Big Brother" da Globo... A razão? Os técnicos da Sky, ao desligarem seus cabos, desconectaram-me também da antena externa do condomínio dias antes daquele domingo, 4 de março... E, curiosamente, tudo isto se deu num ano em que creio ter visto mais filmes indicados em todos os tempos!
Resultado de imagem para blade 2049Resultado de imagem para Logan
Mas não falo somente dos 9 "principais", dos candidatos à estatueta de melhor filme - lista que não me apeteceu a ver em sua completude, deixando de lado filmes como Ladybird, Me chame pelo seu nome e The Post - A Guerra Secreta (mas ansioso para ver, muito em breve, Trama Fantasma, Dunkirk e O Destino de Uma Nação, todos oscarizados)! Falo, mesmo, das indicações de um modo geral, com gratas surpresas entre categorias menos badaladas, como a de melhor roteiro adaptado - em que, mesmo não tando levado, concorria o ótimo Logan («««), filme humano e distante das extenuantes pirotecnias dos atuais filmes de super-heróis, livremente adaptado de várias HQs do Wolverine e dos X-Men e despedida metalinguística de Hugh Jackman do papel que o consagrou - e melhor fotografia - em que, apesar da fortíssima concorrência dos outros 4 indicados, foi mesmo a bela e impactante fotografia de Blade Runner 2049 (««««), emocionante sequência-homenagem do clássico noir-punk de 1982 de Riddley Scott (atuando, neste trabalho, apenas como produtor), que merecidamente arrebatou não só esta estatueta como também a de melhores efeitos visuais.

E agora, um mês depois da festa do careca dourado, além desses dois ótimos filmes outonais de queridos personagens antigos (quem mais poderá viver Wolverine ou Deckard no Cinema, no futuro, que não Jackman ou Ford?), os Morcegos vêm falar de outros interessantes indicados (e seus respectivos Oscars, no caso de terem conquistado algum). E, no mês dos 14 anos deste humilde espaço virtual, serão 14 títulos ao todo (títulos e cotações em vermelho negritado) - vamos a eles...

Impossível conter as lágrimas quando a quase centenária Coco, personagem do título original do muito bom Viva - A Vida É Uma Festa, deixa o estado vegetativo e canta com seu bisneto "aventureiro do além" a bela Remember Me (Recuerda-me, na versão em Espanhol), merecidamente premiada com o Oscar de melhor canção.
Resultado de imagem para três anúncios para um crime
Em primeiro lugar, o "campeão" da noite (13 indicações e 4 Oscars)A Forma da Água (««««), além de arrebatar os dois maiores prêmios para Guilhermo del Toro, os de melhor filme e melhor direção, consagrou um novo estilo de sucesso - o "filme-homenagem" (aqui, ao antigo Cinema de Romance e de filmes B de Horror e Ficção Científica), que já havia sido bem sucedido nas edições anteriores (como em O Artista e La La Land, que celebravam os antigos filmes mudos em preto e branco e os musicais), agora com toques bem redondos e encaixados de drama e filme de época, pitadas de discussão político-social e ... filme de monstro (prato cheio na carreira do diretor do ótimo Labirinto do Fauno)! Pronto: receita perfeita para conquistar ainda as láureas de melhor trilha sonora e melhor direção de arte, ambas as categorias impecavelmente representadas neste ótimo folhetim. Seu "maior concorrente" da noite, o igualmente ótimo, porém em gênero e formato completamente diferentes, Três anúncios para um crime (««««), inteligente drama de camadas humanas, acabou "roubando" o Oscar de melhor atriz... E assim, em vez da apaixonada mudinha que se apaixona pelo monstro aquático, vivida brilhantemente por Sally Hawks, quem levou a estatueta pra casa foi a amarga mãe de uma filha violentamente estuprada e morta numa cidadezinha norte-americana, interpretada por Frances McDormand (perfeita, porém naquele tipo de papel sob medida para a veterana atriz, o que Brando costumava chamar de "papel à prova do ator": não tem como errar!). Três anúncios... levou ainda outro prêmio de interpretação: o de melhor ator coadjuvante para Sam Rockwell (que, curiosamente, repete aqui cacoetes de outros de seus melhores papéis...).

Resultado de imagem para get out
Em tempos de superestimadas séries, como a recente Black Mirror (aguardem postagem especial de aniversário dos Morcegos sobre as 4 temporadas desta cultuada produção televisiva) da Netflix, que nada mais são que releituras tecnologicamente atualizadas de marcos televisivos do passado, como Twilight Zone - Além da Imaginação (e bem aquém da criatividade deste...), o igualmente superestimado Corra! («««)que concorreu, entre outras indicações, ao prêmio de melhor filme (!), bem poderia ser um episódio esticado de uma dessas séries, acabou surpreendentemente com o Oscar de melhor roteiro original - surpreendente porque a divertida mistura de suspense e ficção científica com toques de comédia absurda com fundo de discussão sócio-psicológica sobre questões raciais não tem nada de genial e beira mesmo uma sátira dos antigos filmes de serial killers... De qualquer forma, vale conferir!
Resultado de imagem para os últimos jedis
E falando em Netflix, o poderoso canal virtual de programação streaming levou seu segundo Oscar, o de melhor documentário, com o polêmico Ícaro (««««) - em que, quase numa narrativa de thriller (surge um novo Michael Moore?), o cineasta e dublê de desportista Bryan Fogel não só vive na própria pele a realidade do dopping como acompanha o desvendamento de um dos maiores escândalos do esporte mundial com a revelação de um gigantesco esquema criminoso na Rússia de Putin e seus atletas imbatíveis... Igualmente dignos de nota são outros dois candidatos em categorias técnicas, mas que saíram de bolsos vazios da festa: Kong - A Ilha da Caveira («««), indicado a melhores efeitos especiais, é surpreendentemente divertido, com uma espécie de reboot da franquia de King Kong numa gostosa aventura no lar do gorila gigante; e Star Wars - Episódio VIII - Os Últimos Jedi (««««), concorrendo em quatro categorias (incluindo melhor trilha sonora, para o "veterano da Força" John Williams), acabou não levando nenhum - o que achei uma injustiça para esta estranha sequência da cultuada franquia, que, mesmo com tramas paralelas fracas ou que não levam a nada (um Luke Skywalker literalmente "sumido"; Poe Daemeron e seus novos rebeldes em planos já vistos em filmes anteriores; punhado de naves rebeldes "sem gasolina" no espaço vencendo pelo cansaço gigantesca frota imperial) e reviravoltas anticlimáticas (mas quem é este poderoso Snoke... Ai, ele já morreu...), consegue se sustentar como uma empolgante sequência intermediária no universo SW, bem posicionado entre o velho e o novo.

Resultado de imagem para coco
E na categoria melhor animação, dos quais vi todos os 5 indicados, começo por Com Amor, Van Gogh («««): a belíssima técnica de animação com pinturas nos mesmos moldes do genial pintor holandês sobre cada quadro de um filme morno, de reconstituição biográfica amarrada, mas que chega a emocionar pela beleza... Não se pode, porém, catalogá-lo no subgênero Animação e, portanto, não deveria estar nessa categoria, uma vez que se trata de um drama com atores reais! Já Breadwinner («««« - produção da humanista Angelina Jolie), tanto pela beleza como pela abordagem realista da dura vida de uma menina num Afeganistão dominado pelos talibãs, mereceria o prêmio - mas como estamos numa festa tipicamente estadunidense e comercial, onde reinam a emoção mais trivial e distante de duros problemas de direitos humanos "distantes"... Pelo menos nada que justificasse premiação para o fraquíssimo O Touro Ferdinando (««) - Carlos Saldanha (Rio) e seus personagens cansativos e clichês do início da Era Disney estragando um pequeno clássico da Literatura infantil sobre as diferenças com um touro que prefere as flores às touradas (e que o próprio Disney já havia produzido de forma muito mais competente, em pouco mais de 7 minutos, tendo ganho o Oscar de "curta animado" de 1939) - ou para a simpática premissa sobre a sempre difícil chegada de um bebê na óptica do seu irmão mais velho (e cheio de imaginação) de O Poderoso Chefinho (««« - voz do sempre carismático Alec Baldwin), infelizmente perdida em clichês e exageros típicos das animações atuais... Viva - A Vida É Uma Festa (««««), ainda que longe da excelência da velha Pixar de Toy Story e Procurando Nemo, mereceu esta estatueta, sendo feliz ao criar conceitos por sobre a rica cultura familiar mexicana, numa trama melodramática bem colorida e divertida, agradando na beleza, na Música (vencedora como melhor canção - confira o vídeo acima) e no respeito às famosas caveirinhas de Frida Kahlo (que faz uma "aparição" no filme...) e a um povo normalmente desprestigiado das grandes produções dos EUA.

Por último, mas não menos importante, e ainda falando sobre Animação, o décimo quarto título desta postagem: Dear Basketball («««), de pouco mais de 4 minutos de duração, levou o prêmio de melhor animação em curta-metragem. Imbatível: a paixão pelo basquete, desde a primeira bola de meia aos 6 anos (engraçado: por aqui, essa primeira bola a gente chuta, e não joga na cesta...) até o estrelato, do hoje aposentado Kobe Bryant, pequena lenda do esporte mais popular dos EUA... Música de John Williams (ele de novo) e narração tocante do próprio Kobe num filme tão curto que bem poderia ser um comercial de algum banco, daqueles otimistas e de superação, que ainda fascinam as grandes massas - tal como se dá com um amado ídolo do esporte em relação a seus incontáveis fãs... Se eu ainda fizesse aquela apostinha, seria nesse que eu iria (confira abaixo) - afinal, A Forma da Água deixou bem clara qual a necessidade atual do espectador: magia e emoção...

 

+ voam pra cá

Web Pages referring to this page
Link to this page and get a link back!

Quem linkou

Twingly Blog Search http://osmorcegos.blogspot.com/ Search results for “http://osmorcegos.blogspot.com/”
eXTReMe Tracker
Clicky Web Analytics

VISITE TAMBÉM:

Os Diários do Papai

Em forma de pequenas crônicas, as dores e as delícias de ser um pai de um supertrio de crianças poderosas...

luzdeluma st Code is Copyright © 2009 FreshBrown is Designed by Simran