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Queria na minha estante... |
E foi também em 89 que descobri, numa empoeirada estante da biblioteca do pai de um antigo contemporâneo da escola, o incrível livro
Alfred Hitchcock apresenta: A Roleta da Morte (Ed. Record, 1978), espécie de extensão, na Literatura, do sucesso da antologia televisiva de mesmo nome, em que o Mestre do Suspense apresentava tramas dramáticas e assustadoras, selecionadas, pelo próprio diretor, entre autores desconhecidos do grande público. Foi nesse livro que um conto em particular me marcaria profundamente, tanto na memória afetiva de uma bem construída narrativa, como também no meu estilo de escrever, ali começando a aprender a importância da arte de encerrar uma história com um
grande final: um fotógrafo, com o estranho dom de capturar os momentos mais dolorosos de pessoas em situações de desespero, depara-se entre salvar a vida da mulher grávida caída no fosso do metrô e conseguir mais uma macabra e derradeira fotografia... De grandes finais, sem dúvida,
o velho Hitch de
Um Corpo Que Cai, Janela Indiscreta e
O Homem Que Sabia Demais entendia muito bem!
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O maior super de todos... |
Claro que ela se faz muito mais presente no Cinema ou na Televisão, naqueles momentos em que realmente se acredita que um
homem possa voar... Mas, quando falo em
Magia, não me refiro somente àqueles filmes ou livros que tratem de universos epicamente fabulosos, como no clássico recente
Game of Thrones (que só agora começo a desvendar), tampouco a qualquer obra de Fantasia ou Ficção Científica - fosse assim e o malfadado já esgotado subgênero dos "filmes de super-heróis" ainda hoje agradaria e emocionaria tal como se deu com o
impacto causado por Superman - O Filme, em 1978. Na verdade, falo daquela narrativa com encantamento e Poesia, capaz de tornar até um duro filme Policial (vide o cruel, porém belíssimo
O Poderoso Chefão) ou um intrincado livro de Mistério algo extasiante, emocionante, envolvente... E quando, nessa obra (cinematográfica, literária...), se dá a sorte descomunal de fazer caber
um grande fim, aquele mágico torpor segue a nos tremer a pele, esquentar o peito, intrigar a fronte, arrepiar a espinha e mexer com o cérebro por dias, meses, décadas a fio...
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Clássico de Neil Gaiman:
pesadelos lendo a DC Comics
pelo selo Vertigo... |
E olhando em retrospecto, em particular, toda essa época entre os lisérgicos anos 60 de
Além da Imaginação e o final dos multicoloridos e falsamente inocentes anos 80 de
Histórias Maravilhosas, o período foi bem pródigo em sensíveis montantes de Magia, assim como em saber como bem se acabar um filme, um livro, uma canção - e nem falo de um óbvio Disney e seu incrível
Mary Poppins! Tire por Kubrick em
2001 - Uma Odisseia no Espaço ou Antonioni em
Blow-Up - Depois daquele beijo;
Fellini em
8 ¹/²,
A Doce Vida e
Amarcord; ou o nosso Cinema Novo da amarga Poesia de
Gláuber ou
Nelson; passando por Lucas com suas épicas
Guerras nas Estrelas;
Braga definindo cores para o até então cinza gênero da Crônica; ou ainda a Música de
Caetano, Torquato, Mautner ou
Belquior com seus poemas de MPB desconstruída (ou em reconstrução) e músicas de louca escapada;
Leminski com seu deboche malandro e seus golpes geniais de releitura poética de nós mesmos;
King inventando, em seus livros, o Terror de deslumbramento e fascinação entre crianças e adultos;
Moore e
Gaiman redefinindo os Quadrinhos e chamando de volta os adultos para a festa; e chegando, inevitavelmente (para o bem e para o mal), às mágicas mãos de Spielberg por trás de praticamente tudo de épica e magicamente romantizado que se fez entre os finais dos anos 70 e 80, de extraterrestres com cinco notas de comunicação em
Contatos Imediatos... a aventureiros à moda antiga em
Indiana Jones e A Última Cruzada - que período mágico para as Artes em geral!
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É assim que a tela da smartv da sala vive atualmente:
escolhendo pelos "quadradinhos" |
Inúmeros autores jamais deixaram de se valer de alguma Poesia ou Fantasia para tocar suas obras ao longo dos últimos tempos, isso sempre existiu... Mas nada digno de nota, de Magia com 'M' maiúsculo, coisa difícil num mundo tão dominado pelo imediatismo e pela arte comercializada! Curiosamente, é novamente na
Televisão o novo espaço fértil para um forte movimento pelo retorno a esse jeito mágico de contar grandes histórias - especialmente agora, em tempos de multimídias como o
Netflix, esse híbrido de TV e
internet em que milhões de filmes e séries inteiras estão disponíveis para imediatas maratonas! Eu mesmo ando bastante ligado nesse canal: além de ter devorado, assim que assinei no final do ano passado, a segunda temporada do já clássico absoluto de Ficção-Horror
Stranger Things (ainda preferindo a primeira...) e finalmente ter visto a quinta e última temporada que me faltava para fechar a trágica Poesia violenta de
Breaking Bad (no que não me contive e acabei por rever as primeiras - e melhores - quatro anteriores do grande Walter White), já me familiarizei com as maravilhas do formato
streaming e fechei várias séries bacanas: quase toda a heroizada
Marvel,
dos muito bons
Demolidor e
O Justiceiro aos fracos e arrastados
Luke Cage e
Punho de Ferro; a encantadoramente amarga e irônica fantasia cômica das duas temporadas de
Desventuras em Série; e a nada mágica e somente razoável
Better call Saul, 'spin-off' de
Breking Bad com o divertido Saul Goodman (agora ofuscado por longas situações familiares)!
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É a tela ou são as pessoas
que se "quebram" diante da tecnologia? |
Pois é: meu namoro com aquele estilo de encantamento continua firme e, na maioria dos casos, ando preferindo as séries nessa linha mágica a renomadas, porém mais realistas tramas - como as ainda não vistas
House of Cards, Narcos, The Crown ou
La Casa de Papel. E, voltando-se ao início desta postagem, mais um ciclo se fecha com uma nova releitura da antiga
Twilight Zone, agora a fim de adequar a velha fórmula de fantasiosos episódios independentes entre si aos hodiernos e cínicos tempos da alta tecnologia:
Black Mirror, referência, no título, ao "espelho negro" que nos reflete (e aprisiona) pelas telas dos computadores, TVs e celulares a uma realidade nada boa, é uma premiada série inglesa (hoje pertencente à
Netflix) com grande elenco internacional, parece querer trazer à tona esse velho universo do qual jamais nos deixamos separar - o de se surpreender com o inusitado, e, no caso, viajar pelas mágicas possibilidades "futuras" da tecnologia sem perceber direito o quão presentes (e possíveis) todas elas já são! Infelizmente, Magia e Grandes Finais não são uma constante nessa cultuada, porém seca série
: de um modo geral, as premissas e painéis de fundo são sempre muito interessantes, mas ora se arrastam demais em longas-metragens (algumas histórias chegam a 90 minutos - o que compromete bastante o desenvolvimento desse formato), ora se encerram sem vontade ou sem apresentar uma conclusão satisfatória...
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Melhor jeito de se ignorar alguém numa crise conjugal:
bloquei-o em seu chip e o deixe incomunicável! |
De qualquer forma, o grande responsável por tudo,
Charlie Brooker, desenvolveu pelo menos uma pequena obra-prima por temporada, capaz de alimentar as esperanças de que nada está perdido no doce terreno da ficção moderna... E
Black Mirror, além de merecidas "menções honrosas" a três já pequenos clássicos do imaginário popular,
15 Milhões de Méritos,
Hang the DJ e
Manda quem pode, conta com os seguintes episódios imperdíveis: na primeira temporada, o Suspense de Ficção Científica
Toda Sua História, em que um marido, obcecado com a ideia da traição da esposa, vai às últimas consequências com seu avançado
chip de memória; na segunda, a deliciosa Comédia de Ficção
Queda Livre mostra Bryce Dallas-Howard e seu sorriso plastificado de boneca na atualmente bastante comum obsessão louca de ser popular nas redes sociais - sendo que, no futuro, disso dependem empréstimos, contratos e até empregos; a terceira revela o melhor episódio de todos com a genial Ficção Científica
Natal, em que nada é o que parece ser nesta trama cheia de reviravoltas e histórias intercaladas; e, por fim, a quarta e mais fraca temporada, com somente um grande episódio,
Black Museum, em que, mais uma vez, várias histórias se intercalam dentro de uma maior, numa espécie de homenagem à própria série ao alinhavar diversas referências e personagens já explorados, numa espécie de universo unificado, tudo reunido num macabro museu de tecnologias mentais fracassadas... Apesar dos muitos defeitos, esse "Espelho Negro" (saudade de quando se traduziam os títulos originais...) merece ser vista - afinal, é a Magia se renovando!
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Foi quase assim a Lua daquele dia mágico em que escrevi
meu primeiro poema... |
E pensar que tudo isso começaria, para mim, naquele hoje longínquo 1989 por causa do Cinema em minha casa... E que, três anos depois, em 1992, eu entraria nesse mundo ao "começar" a escrever: com o entusiasmo de algumas redações em versos e prosas então muito queridas na escola, minha primeira crônica-conto,
Amanhã é outro dia..., escrevi na última folha do caderno do segundo ano do ensino médio, esperando a primeira namorada na imponente Biblioteca Pública Benedito Leite; e, um pouquinho antes, em 1991, concebi o poema que dá título a este humilde espaço virtual,
Morcegos, após voltar de uma videolocadora, deixando fitas devidamente rebobinadas no último minuto do prazo sem multas antes de fechar, às 21 horas, olhando para o céu limpo e claro de uma
mágica lua cheia envolvida por uma grande auréola - tantas e tão diversas inspirações, mas sempre prenhe de Magia e já exercitando as lições aprendidas algum tempo antes a respeito de grandes finais...
Mas foi somente após decorridos mais 15 anos,
em 2004, que este blogue ganhou forma, no finalzinho de abril, mais precisamente no dia 30, ao me fazer entrar de vez na
internet e na Literatura, redefinindo minha vida ao abraçar o escrever religiosamente até hoje,
14 anos depois, em que ainda ensaio Poesia pela minha Prosa de amador e amante no contínuo exercício do suspiro derradeiro de um final que nunca há de chegar... Então, que nunca se acabe, sempre se renove - com direito a inúmeros lindos finais mágicos! Obrigado por me acompanharem e me ajudarem na árdua tarefa de carrear Magia do papel para o dia-a-dia com a pena digital desse velho teclado descarregando, sobre a tela do seu PC (hoje também no seu
note, tablet e
I-Phone!), Cinema, Literatura, Música, Quadrinhos e Artes em Geral, diletos Morcegos... Meus parabéns!
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Como tudo começou... Assim era o layout original dos falecidos tempos de Weblogger!
Aproveite o sem-número de links ao longo desta postagem especial de aniversário e boas viagens... |