quinta-feira, 31 de maio de 2018

Das Lombadas ao Aniversário

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Quisera eu que minha coleção ainda estivesse com essas cores vivas...

O ano era 1986 e eu tinha de 8 pra 9 anos: lembro-me bem da idade por causa do relógio digital amarelo, de pulseira emborrachada, que eu ostentava, na terceira série, por causa da exclusividade! E também, é claro, por ele ser derivado daquele presente incrível, cortesia da minha finada avó Raquel: uma enciclopédia, a Biblioteca dos Escoteiros Mirins (1985), reedição compilada, em capa dura, dos antigos Manuais Disney da década de 70, que guardo até hoje - e que, além do reloginho, ainda dava como brindes um quebra-cabeça e um carregador de livros (três coisas que, infelizmente, não mais possuo...). Muita gratidão: ali estavam, diante de mim, 20 volumes sobre todos os assuntos que um menino que adorasse ler naquela idade vibraria em conhecer: truques de mágica; grandes inventores e invenções; os maiores nomes da História do Futebol e dos Esportes em geral; personagens da Mitologia grega etc. Só havia um probleminha: ansiosa quanto ao impacto da surpresa, para que eu visualizasse, de imediato, a ilustração completa formada com a junção de todas as lombadas (Donald, Margarida e os sobrinhos escoteiros: vide foto acima), minha avozinha, que morava no Rio, se precipitou em mandar todos os livros já montados, em cima da estantezinha vermelha, na encomenda! Como o plástico frágil não aguentou o longo transporte, a pequena estante rachou em dois pontos, deixando este já colecionador-em-formação em frangalhos, uma vez que ficava tudo sem muita firmeza...

30 anos depois: à beira dos 40 e das falências econômica, profissional e como pessoa, eis que as editoras começam a carrear para o Brasil um filão já explorado lá fora: o "mercado nerd" de relançamentos de Quadrinhos! E, apelando para o então em alta gênero Super-Herói, o primeiro grande lançamento nacional foi Marvel Graphic Novels, 60 volumes encadernados em capa dura, de alguns ótimos arcos famosos (e outros nem tanto: fracos e caça-níqueis revistas dos últimos 15 anos), cujos dorsos traziam o herói protagonista da vez, num quadrinho mais acima, juntamente à parte de um grande mosaico, com a arte de Gabrielle Del'Otto, estampando alguns dos principais medalhões da "Casa das Ideias" em ação. Infelizmente, ao contrário do que se deu com a bela encadernação da antiga Editora Abril e seus escoteiros-mirins (que, por sua vez, também foi relançada recentemente), a Salvat teve enxurradas de reclamações pelos problemas com a ilustração dos lombos: a cada edição, os colecionadores iam percebendo que a ilustração nunca se ajustava - uma hora era o braço do Wolverine mais pra cima; na outra, o ombro bem mais pra baixo... Eu mesmo fui vítima! Curiosamente, mesmo com estes e outros problemas (como os constantes aumentos de preços e os excessivos atrasos nas bancas regionais, muitas vezes com a chegada de três volumes numa só semana!), ainda foi lançada uma coleção complementar, com mais 60 volumes - agora, voltada para os "clássicos" (mais uma vez, alguns bem longe disso...) das décadas de 60 e 70 -, que, ainda em andamento, já me fez desistir pela metade do caminho, tendo parado no volume XXVII, até onde dava para brecar o mosaico sem maiores "perturbações visuais" para a minha prateleira...

Dorso, lombo, lombada... Palavras diferentes para designar uma parte do livro que, antes, mal trazia a identificação do título e de seu autor, mas que há muito passou a carregar pequenas ou grandes ilustrações a fim de criar um visual em formação, dando continuidade para que algumas séries de títulos ficassem mais visíveis e bonitas na estante - sem mencionar a "obrigação" imposta aos compradores de não deixar de comprar um só volume, visando a não desfalcar o visual completo! E tome no lombo um crescendo normalmente escorchante de preços até que uma coleção, especialmente em HQs, viesse a se completar! Sim, porque, do lado de cá da realidade, é um bocado difícil manter-se um "super-herói" com as contas acumulando e o espaço de casa diminuindo para tanta coisa! O certo foi que, no meu caso, chegou um ponto em que livros, quadrinhos e miniaturas se acumularam de uma vez, entre os excessos de lançamentos dos últimos dois anos e a minha controlada cobiça (não compro tudo; vou criando parâmetros e me impondo limites), sem contar com a absoluta falta de tempo para sequer desfrutar do que comprava... Hoje, ao ver a eterna bagunça em que me meti no meu gabinete-escritório de casa, sinto uma melancólica angústia de jamais poder vir a me reencontrar com aquele guri de 8 pra 9 anos plenamente organizado com cada coisa em seu lugar - e capaz de se condoer por simples rachaduras na estantezinha da sua primeira coleção de livros! 

Hoje, recém completados 41, é outra criança de 8 anos, que não eu, que me encara a quase sempre me fazer a mesma pergunta: - Pai, quando é que você vai dar um jeito nessa bagunça...?! - questiona Isabela quando adentra a minha "Fortaleza da Solidão" para ler alguma coisa ou jogar no computador, e para quem, infelizmente, costumo dar somente respostas evasivas, tantas as desordens... Afinal de contas, organizar as lombadas da vida na luta para que a ilustração se acerte e deixe pelo percurso uma bela ilustração não é mesmo tarefa para uma criança! Mas é com essa menina que passei a aprender sobre o tempo e que, ainda que tivesse poderes de um super-homem, a fazer o mundo girar ao contrário e voltando no tempo até ser novamente aquele garotinho e recomeçar tudo, eu poderia jamais colecionar em minhas mãos sorrisos tímidos, birras reflexivas, olhos cheios de luz e beleza, questionamentos repetitivamente adoráveis e graciosidades escalafobéticas como as que recebo todo santo dia por esses "superpoderes" dela! E ela, assim como minhas coleções, nunca para de crescer! O mais engraçado é vê-la hoje a folhear algum livro velho da Biblioteca dos Escoteiros-Mirins nesses frios e imediatistas tempos de Google ou gostando do universo super-heroístico, que conhece desde a época em que comecei a comprar essas graphic novels...
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E essa "saga" meio que continua, numa espécie de "postagem de extensão", tal qual nas intermináveis coleções atuais de relançamentos editoriais, em outro blogue amigão da vizinhança que eu tento escrevinhar por entre os destroços do meu escritório: clique em www.osuperpai.blogspot.com.br e viaje junto!

domingo, 13 de maio de 2018

Às Armas!

Imagem relacionadaQuando nasci, tenho quase como por certo que um anjo torto, perdido havia muitas décadas, sombrio, vacilante, desses bem safados, vaticinou diante de meu primeiro choro: vai, Dilberto - sê cativante e cativeiro da mais bela, destrutiva e apaixonante insegurança diante do mundo! Assim, apesar de nem saber direito do que se tratava aquela vida que me aguardava, eu já "prometia" demais... E, ainda que então desconhecesse duas armas que me seriam sagradas tempos depois e que surgiam naqueles mesmos mês e ano que vim ao mundo (só viria a aprender a "manusear" a Força e o sabre de luz tempos depois, assim como se deu com a Poesia de Drummond e Chico), eu segui em frente!

 Resultado de imagem para espada olho de thunderaResultado de imagem para do que é feita a espada de he-manCrescia... E me foram dadas muitas outras armas: além de me entupir de imaginação, entre desenhos animados da Disney e da Hanna-Barbera e um homem bonito de collant azul e capa vermelha (que me fez acreditar que se podia voar...), exatos dez anos depois minha mãe me faria uma linda festa de aniversário em casa com os felinos de Thundera e, em seguida, me vestiria como o famoso guerreiro de Etérnia para um longínquo 7 de setembro - e tudo só de olhar uns álbuns de figurinhas e desenhos da TV comigo (e também com o auxílio de uma velha máquina Singer)! E eu, além de conversar com meus bonecos na uma hora de "intervalo para a digestão" entre o almoço e o dever de casa, já tinha visão além do alcance, possuía um colete de coridita (com a clara representação do time que meu pai me ensinava, por tabela, a gostar: He-Man era vascaíno!) e uma espada do poder que me daria a Força - de novo... Meu destino estava traçado em meu inconsciente adulto em formação: ou seria desenhista da Disney ou da Maurício de Souza Produções; ou desenvolveria brinquedos tão divertidos quanto aqueles bonecos da Estrela e da Graslitte; ou, se nada mais desse certo, seria arquiteto (conforme os adultos me explicavam que essa era a profissão de quem gostava de desenhar casas) - em meio a inúmeros super-heróis e personagens criados por mim mesmo e excelentes notas na escola (mesmo sem muita consciência disso tudo...)!

Resultado de imagem para proton packNa passagem para a adolescência, mantive-me na infância por meio de um aparelho de videocassete e milhares de filmes que me reconstruíam em fantasia - a qual, juravam pra mim, seria perdida tão logo eu "crescesse"! Mas não era disso que vivia o tal do Spielberg em todos aqueles filmes (até nos que nem eram dele)? Ele me parecia bem crescido, sabendo muito bem o que queria com seu (maravilhoso) trabalho... E, o melhor de tudo: feliz! Estava acertado: seria cineasta! Pouco importava se no Brasil a coisa toda fosse diferente e só a família Barreto ganhasse dinheiro com Cinema: eu criaria a megaprodutora HD Studios com o amigo Henrique, faríamos continuações de Caça-Fantasmas, Robocop e Batman, uma melhor que a outra! Quando o gênero esgotasse, partiríamos para as paródias dos nossos próprios filmes, no melhor estilo Top Secret - Superconfidencial, e seguiríamos dominando o mercado nacional com a cara de Hollywood (mais ou menos o que a famigerada Globo Filmes faz hoje em dia)... Isso até eu descobrir o que era realmente Cinema aos 15 anos, assistindo às sessões Corujão e, por lá, conhecendo os clássicos italianos, franceses, japoneses...

Resultado de imagem para pincel atômico canetaDe repente, o mofo deu (o cacófato foi intencional): não só perdi toda a minha estimada coleção de fitas VHS para grandes manchas brancas de fungo como também o meu precioso aparelho de videocassete (meu, não - ambos, o JVC e depois o Semp-Toshiba, sempre foram de mamãe!) se acabou com o sucessivo desgaste de sujeira no cabeçote... De repente, as velhas armas conhecidas ficaram defasadas: os sabres e feixes de prótons improvisados das brincadeiras foram encostados; Spielberg desandou com Hook já na entrada dos anos 90; há muito o amigo Henrique voltara para Recife (onde hoje ele é... cineasta!)... Mas acabei aprendendo a desenvolver novos mecanismos de batalha: descobri como "atuar" no cinematográfico mundo das mulheres; comecei estudando a Arte da Arquitetura e terminei no seco Direito - mas preferia mesmo era escrever, escondido no escritório, num blogue criado pela amiga Adriana (novamente - dos tempos da escola); e, por fim, descobri-me professor, casado e com uma filha (depois, viriam mais dois!) e posso dizer que as canetas e os pincéis atômicos acabaram tornando-se a única arma disponível a partir de então... Caiu o DVD - depois o Blu-Ray, o pen-drive... O negócio é Torrent e Netflix! Agora os empregos, o mestrado...

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Mas e eu?! Afinal, nada é mais defasado, obsoleto e desarmado do que este velho vermelho das 7 faces lilases... 41 desse jeito?! Não gostei! Morro de medo de, a qualquer momento desses "tempos estranhos", vir a ser julgado não por um juiz de exceção midiático e superpoderoso, mas por aquele eu-garotinho, que antes se armava de sabres, espadas e feixes de sonhos, e agora, por aqui materializado e vindo de alguma fenda espaço-temporal, acabasse por me questionar: - E aí: conseguimos? No que eu teria que confessar que não... E depois, ainda um tanto quanto envergonhado e com os olhos marejados por tantas desistências e magias perdidas, emendaria: "Cá entre nós, apesar de tudo, não mudei tanto assim de você... Mas, diante dos desvios, não conta nada pra mamãe da tua época... No entanto, agora que você está aqui - às armas! Tudo bem, já nem lembro pra onde mesmo que eu vou... Mas vamos até o fim!?"
 

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